Nota técnica "Educar na era da Inteligência Artifical: Caminhos para a BNCC Computação"

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13.09.2016
Tempo de leitura: 4 minutos

A tecnologia como ferramenta de educação e cultura na Nigéria

Engenheiro fala sobre aplicativos que conectam crianças e adolescentes com a cultura ancestral do seu país.

O engenheiro Adebayo Adegbembo fala sobre aplicativos que conectam crianças e adolescentes com a cultura ancestral do seu país, a Nigéria.

A sobrevivência de um idioma depende de falantes dispostos e ouvidos atentos, ainda mais quando carrega raízes de uma cultura em vias de desaparecer. Mesmo que a língua iorubá seja falada por mais de 20 milhões de habitantes em países africanos, sua cultura vive tempos de desconhecimento. Na Nigéria, crianças já nascem falando inglês e desconhecendo a língua dos orixás – o pouco que sobrevive da cultura de seus antepassados depende dos mais velhos ou de praticantes de religiões africanas.

Se os orixás desaparecem entre os novos costumes, o mesmo não se pode dizer da tecnologia, que ganha força frente a um cenário de dificuldades de infraestrutura, como a falta de acesso a dispositivos. Nas ruas de Lagos (Nigéria), muitas mãos e bolsos carregam celulares, que, mais do que uma ferramenta de comunicação, são o principal ponto de acesso à internet para os nigerianos. “A telefonia móvel nos deu independência e fez por nós mais do que o computador jamais fez. E a internet permitiu a democratização de ferramentas e informações para que nós inovássemos em diferentes áreas”, explica Adebayo Adegbembo, criador dos aplicativos Asa (que em ‘iorubá’ significa cultura).

Adebayo é a personificação do encontro entre tecnologia e tradição. Formado em engenharia da computação, ele percebeu que seus sobrinhos não tinham contato com a cultura iorubá à medida que cresciam. Não havia nada nas mídias que não fosse estereotipado ou preconceituoso e o assunto dificilmente era abordado dentro das escolas. Foi por isso que criou os aplicativos Asa, uma linha de apps para incentivar crianças e jovens a conhecerem a cultura de seu país.

“Nós, como país, temos uma concepção errada sobre a nossa herança, pensando nela como ruim ou algo que deve ficar no passado. Precisamos mostrar a beleza dela, e uma das maneiras de fazer isso é através da tecnologia”, conta Adebayo. Embora possam ser utilizadas por uma larga faixa etária, os aplicativos foram desenhados para atrair principalmente crianças e jovens – seu design é lúdico e atrativo, e suas histórias, baseadas na mitologia iorubá, são uma atualização contemporânea de contos antigos.

Um dos aplicativos é o Yorùbá101. Nele, o usuário é iniciado na língua iorubá por meio de figuras lúdicas e contos mitológicos. Para o criador, o aplicativo cumpre a missão de educar as pessoas e fazê-las enxergar para além de quaisquer pré-conceitos. “Quando eu vou nas escolas e mostro meus aplicativos, algumas dizem ‘Não queremos ver isso’, por pura ignorância. São esses adultos que estão tomando decisões nos lugares das crianças”. Uma vez conhecidos os aplicativos e suas histórias compartilhadas, as respostas são positivas, tanto de adultos que querem mostrar para os mais novos, quanto de jovens compartilhando o aprendizado com os mais velhos – acontece uma troca geracional.

O aplicativo está disponível em inglês, espanhol e também português. Adebayo se diz constantemente inspirado com as relações que o Brasil tem com a cultura iorubá, em especial no que concerne às religiões de matriz africana, como o candomblé. “Se os brasileiros consumirem meus aplicativos, os nigerianos, em sua cultura de admirar o que outros países estão fazendo, podem se reconectar com sua ancestralidade”, ele complementa.

Os aplicativos Asa são uma ponte entre os benefícios que a tecnologia pode trazer em termos de inovação e sua capacidade de preservar e resgatar culturas tradicionais. Se a Nigéria se constitui como um novo pólo de inovação tecnológica, o trabalho de Adebayo é parte do movimento de quem usa a tecnologia para uma educação inovadora que impacte o entorno. “Nós nunca saberemos os efeitos da colonização no modo como vemos o mundo. Mudar o quadro e fazer com que nos conectemos com o que é nosso é uma das motivações para que eu continue a trabalhar”, Adebayo finaliza.


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