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30.09.2021
Tempo de leitura: 7 minutos

Brechós viram fonte de renda para jovens

Jovens veem os brechós como oportunidade para empreender na pandemia, além de serem uma forma sustentável de consumo e de economia

A compra e venda de roupas e acessórios usados não é novidade no mercado. Os brechós e bazares sempre fizeram sucesso em todo o mundo, seja pelo preço baixo ou pela oportunidade de adquirir peças únicas e autênticas, que marcaram época – e agora chamam atenção de jovens empreendedores.

Com lojas e shoppings fechados por mais de um ano, por causa da Covid-19, o mercado de brechós se transformou e se reinventou. Quem resolveu empreender e investir nesse segmento viu a pandemia impulsionar a revenda de roupas, enquanto grandes lojas tiveram redução no faturamento.

Os estabelecimentos que comercializam produtos de segunda mão tiveram crescimento de 48,58%, entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, segundo levantamento do Sebrae. De acordo com a entidade, dois fatores impulsionaram esse aumento: o controle financeiro das famílias durante a pandemia e a preocupação com o consumo consciente e com a preservação do meio ambiente.

E os jovens são a maioria nesse segmento, tanto entre os compradores como entre os empreendedores. Na hora de comprar, esse público está em busca de preços acessíveis, além de ser mais preocupado com o consumo consciente. Os motivos que levam os jovens a desapegarem de suas peças vão desde a vontade de ter independência financeira, até a necessidade de ter mais espaço no guarda-roupa, entre outros desafios.

Capi Brechó

Laís Rocha Oliveira, de 21 anos, ficou grávida do primeiro filho em 2017. Ela conta que sempre comprou suas roupas em brechós, em Campo Grande (MS). E tinha o sonho de ter o próprio negócio. Para conciliar os estudos, a rotina de cuidar de um bebê e gerar dinheiro para o sustento, a jovem abriu o próprio guarda-roupa para vender as roupas que não usava mais. Inicialmente, familiares e amigos compravam as peças. Foi assim que surgiu o Capi Brechó, uma loja on-line.

“A internet é meu local de trabalho. Foi o que me impulsionou na pandemia. Pensei que nesse período as vendas fossem cair, mas elas aumentaram. Vem chegando clientes novos que querem realmente economizar e ter algo diferente no armário”, comemora a empreendedora.

O valor das peças do Capi Brechó varia de R$ 5,00 a R$ 100,00. Mas para a jovem, o mais valioso do trabalho é o carinho com que tudo é preparado.

“Também cuidamos dos mimos, dos conteúdos informativos, fazemos bilhetes com recados. Acredito que esse seja nosso diferencial: acolher e tratar o cliente da melhor forma possível para uma melhor experiência de compra”, explica.

Laís também procura disseminar informações em suas redes para eliminar o preconceito de quem ainda não compra em brechós. “É um trabalho desafiador, que requer paciência e dedicação. É preciso garimpar, fazer curadoria de peças, produzir conteúdos que mostram como as roupas de brechós são ótimas”.

A jovem diz ter aprendido muito ao empreender nos últimos quatro anos. E deixa uma dica para quem quer seguir nesse ramo.

“Tente e persista. Dificilmente você vai conseguir um resultado inicial. Aprendi muito com meus erros e busquei referências. Tive muito foco e determinação. Hoje, digo que foi a melhor escolha que já fiz”, explica.

Brechó Encontrei Lá

A cuiabana Juliana Souza, de 19 anos, sempre decidiu com cuidado sobre o que comprar e usar no dia a dia. Apesar de gostar de brechós, passava por dificuldades para encontrar roupas do seu tamanho.

“Sou uma pessoa gorda, e não falo isso de forma pejorativa. Ser gorda não é julgamento. Minha mãe sempre me levou a bazares, e eu sentia falta de peças maiores. Sentia essa dor e pude ver que mulheres, assim como eu, buscavam peças mais sustentáveis, mas não encontravam”.

Foi assim que ela teve a ideia de criar um brechó com foco em peças plus size. “Achei que esse poderia ser um diferencial para o meu negócio”.

Encontrei Lá é um brechó on-line que tem dois anos, a mesma idade de Miguel, filho de Juliana. O negócio também surgiu para que ela ajudasse a família com os gastos com leite e fraldas do filho.

“Meus pais sempre me apoiaram, mas não queria depender só deles. Eu tinha vergonha de encarar as pessoas e as redes para vender. Mas venci tudo pelo meu filho”, diz emocionada.

Para ela, o principal caminho para empreender e ter sucesso no mundo dos brechós é se especializar. “Nunca parei de estudar. Aproveitei a pandemia e fiz cursos de Marketing e de Empreendedorismo e quero seguir aprendendo”, ressalta.

É a própria Juliana quem lava, passa e tira fotos das roupas que vende. Além disso, cuida das redes sociais e envia encomendas para todo o Brasil. Juliana afirma que gostaria de ser referência no Brasil como um brechó para mulheres plus size.

“Já sou conhecida na minha cidade por atender esse público. Mas quero ser reconhecida nacionalmente. O consumo consciente é um estilo de vida que faz a diferença para a vida de todos”, finaliza.

Brechó Jeans Ancestral

Stefany Silva, 22 anos, é moradora do complexo da Maré, um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro. Na comunidade Rubens Vaz, ela fundou o brechó Jeans Ancestral, trazendo das mulheres da sua família a inspiração para ser empreendedora da moda do desapego.

“Minha avó Luzia me ensinou sobre como ressignificar a roupa e como era importante termos um novo olhar sobre o que consumimos. E isso me tocava muito quando pensava sobre a moda”, relembra.

Dos tricôs, costuras e trocas com as mulheres da família, aos 12 anos de idade ela já realizava os primeiros desapegos de roupas. E não parou mais. Sua ideia era levar essa consciência para a própria comunidade, com as roupas usadas pelas pessoas da favela.

“Meu público é o jovem da Maré. Quero ser referência aqui e trazer um novo olhar para o meu território. Não descarto a possibilidade de expandir meu negócio, mas acredito que é importante fazer a economia girar na própria comunidade”, afirma.

Seu brechó surgiu em plena pandemia, apesar de ser uma ideia que Stefany tinha há algum tempo. “Lancei o brechó em abril de 2020. Fiquei preocupada, mas como eu tinha um propósito, não desisti e comecei mesmo na pandemia. No início não vendi muito, mas tenho percebido que ele vem crescendo”, conta.

Quem adquire mais de uma peça do brechó pode ganhar descontos e até brindes. Mas para a jovem, o mais importante é a valorização do microempreendedor local.

“Acredito que é necessário apoiar todas e todos os trabalhadores independentes, principalmente do nosso território. A moda é uma arte e tenho pensado em como posso mapear e ampliar isso, contemplando a Maré e outros locais onde meus parentes nasceram. Quero que essa seja uma jornada coletiva. Grandes negócios e ideias surgem a partir da experimentação”, finaliza.


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