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01.06.2020
Tempo de leitura: 6 minutos

Com autonomia e protagonismo, cultura maker inspira a educação do século XXI

Conheça projetos que fortalecem conceitos como uso de tecnologia, autonomia e protagonismo, além de unir forças no combate à pandemia do coronavírus

Profissionais da saúde posam para foto usando máscaras de proteção facial

Relatório de tendências do Facebook apontou a cultura maker entre os assuntos mais buscados pelos brasileiros em 2019. Além de despertar cada vez mais interesse, colocar a mão na massa ganha força como prática pedagógica ao promover autonomia e protagonismo, conceitos importantes e presentes tanto na descrição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) quanto na implementação do Novo Ensino Médio.

Análises sobre o futuro do trabalho indicam que estamos em meio à 4ª Revolução Industrial, marcada pela adoção de sistemas inteligentes, o que exige profissionais preparados para desenvolver e lidar com a tecnologia e que saibam atuar em colaboração com seus colegas, contribuindo para o bem comum. Nesse cenário, atuação de movimentos autônomos em todo o mundo ganha relevância.

“O Movimento Maker é marcado pela autonomia, galgado pelo livre compartilhamento de sabedoria entre pessoas com ou sem formação acadêmica”, explica Carlos Eduardo Lima Braga, o Kadu, especialista em Tecnologia Educacional e Google Innovator.

O educador integra o Makers Contra a Covid-19, que promove o combate à pandemia. O coletivo autônomo se formou a partir de uma conversa entre Kadu, que também é fundador da Teia Inovação Consciente, e Denis Massucatto, professor de engenharia de impressora 3D na Universidade de Mogi das Cruzes (SP). A ideia era produzir face shields, máscaras de proteção facial para profissionais da saúde.

A rede de colaboradores envolve ainda engenheiros de software, gestores e professores de universidades, profissionais da área da Saúde e até mesmo do Audiovisual, como fotógrafa e figurinistas.  Com uma estrutura horizontal, coordenam a produção dos makers, ou seja, quem produz os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), até a logística de entrega para hospitais, assistentes sociais e agentes comunitários. Também produzem material de comunicação para divulgação nas mídias sociais.

Kadu Braga conta que já foram doados insumos para 35 instituições de toda a Grande São Paulo e foi fundamental a articulação com a Dra Ho Yeh Li, chefe da infectologia e UTI do Hospital das Clínicas. “Semanalmente, nós enviamos novos protótipos para avaliação e aprimoramento. Essa troca direta com os profissionais da saúde é primordial para o desenvolvimento e legitimação do projeto”, completa.

O poder do fazer

Um dos fatores mais valiosos que a cultura maker pode levar às escolas e para o ensino de competências e habilidades é a ação prática, segundo Fernanda Camara, bióloga e coordenadora do Santos Hacker Clube.

“Quando somos estimulados a realizar um projeto, aprendemos na prática como colaborar, como pesquisar, como solucionar problemas de forma criativa. O fazer é extremamente gratificante: desde fazer um pão até fazer um robô. Quando você se vê capaz de superar os desafios e enxerga o resultado de seus esforços e estudos isso gera uma sensação que eu chamo de o poder do fazer’”, afirma.

O grupo do litoral de São Paulo existe desde 2013 e nasceu do encontro entre amigos criativos e da busca por pessoas engajadas em brincar, estudar e inventar. Unidos por meio do Facebook e Whatsapp, tornaram-se mais ativos em 2019 ao promover estudos presenciais, ganhando uma sala para abrigar equipamentos com a parceria do Instituto Procomum. Hoje, conectam estudantes e diversos profissionais interessados em discutir tecnologia, como professores, artistas, biólogos, engenheiros e físicos.

Sempre conectados, assim que souberam dos primeiros casos de coronavírus no Brasil, os integrantes estudaram o que acontecia em outros países, como o desenvolvimento de válvulas para respirados feitos com impressão 3D pelos italianos. Voltando-se à comunidade local, decidiram que a confecção das máscaras de proteção facial era viável.

Já foram produzidos cerca de 2.000 face shields com o apoio de 28 makers usando  impressoras 3D. Uma equipe de 10 pessoas está na coordenação do projeto e contam ainda com a participação de duas escolas de Ensino Fundamental, uma universidade e duas Organizações Não Governamentais (ONGs).

São beneficiados hospitais em sete cidades da Baixada Santista e a bióloga destaca que é gratificante dar suporte aos profissionais da área da Saúde, mas também está sendo fundamental contar com a solidariedade de todos.

“Nos colocamos da melhor forma para ajudar nessa missão de cuidar de quem cuida, mas todo o processo é feito a partir de doações. E assim buscamos chegar ao maior número possível de pessoas”, salienta. O site do Santos Hacker Clube detalha as maneiras de colaborar e traz informações sobre logística, produção e distribuição dos EPIs.

Um movimento para transformar o mundo

O educador Kadu Braga analisa que makers assumiram a produção de EPIs em escala mundial por conta da demora nas respostas à pandemia do Covid-19. Além disso, acabam fortalecendo políticas públicas, o que no Brasil significa atuar pelo fortalecimento do SUS, Sistema Único de Saúde, por exemplo.

“Percebemos que nosso objetivo seria ‘achatar’ a curva de contaminação dos profissionais de saúde visando não sobrecarregar, ainda mais, o sistema”, conta. Nesse sentido, a natureza da cultura maker, fundamentada em uma organização de trabalho horizontal, na solução de problemas com alta capacidade criativa e com uso da tecnologia, torna o processo muito mais eficiente e colaborativo.

A maneira de trabalhar dos movimentos também já é adaptada ao isolamento social por utilizar a fabricação digital e o compartilhamento de projetos para a fabricação dos insumos em casa. “A própria tradução do nome explica, é a cultura do fazer e neste momento temos o propósito comum de enfrentar a pandemia. Sempre esteve ligado ao compartilhamento e a colaboração. É isso que possibilita que tenhamos autonomia para realizar uma produção independente de grandes indústrias”, complementa Fernanda Camara.

Kadu defende, contudo, que é preciso reconhecer o privilégio de quem dispõe de conhecimento e maquinário prévios para viabilizar projetos e atuar para aprimorar mecanismos na disseminação do movimento maker.

“A cultura maker não está intrinsecamente ligada a tecnologias ‘de ponta’, como uma impressora 3D, porém isso não pode se tornar uma desculpa para o não investimento. Acreditamos em um movimento acessível, que busque prototipar soluções para problemas reais da sociedade, seja ela com maiores ou menores bens de consumo ou acessos”, resume.


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