As redes de ensino do país têm até outubro de 2023 para iniciar a implementação da Computação. A formação dos saberes docentes será responsabilidade do Ministério da Educação
Desde que a Câmara de Educação Básica, do Conselho Nacional de Educação, publicou uma resolução, em outubro de 2022, com as normas estabelecidas sobre Computação na Educação Básica, em complemento à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Brasil passou a integrar o rol de países onde a Computação é obrigatória em todo o Ensino Básico.
A primeira proposta de introdução computação na BNCC foi enviada ao Ministério da Educação (MEC) em 2015. Entretanto, o projeto não foi incluído na proposta da BNCC aprovada até 2018.
Assim, somente em 2021, após uma consulta pública com a participação de diversas organizações e representantes da sociedade civil, é que foi construída a proposta final da norma da BNCC-Computação. As redes de ensino têm até o mês de outubro de 2023 para iniciar a implementação. “Mas, a adoção da proposta poderá ser realizada pelas redes de maneira gradual, ano a ano, sem prazo limite estipulado pela resolução”, esclarece Christian Brackmann, professor (IFFAR), doutor em Informática na Educação e integrante da criação e validação da proposta da BNCC-Computação
Embora não haja prazo limite para a conclusão da implementação, é preciso considerar a urgência e a importância de se trabalhar a temática, tendo em vista as constantes transformações que acontecem na sociedade, impulsionadas pela cultura digital.
A computação na Educação Básica: estudantes preparados para o mercado de trabalho
Durante a sala temática “Caminhos para o desenvolvimento de competências digitais de educadores e estudantes”, realizada pela Fundação Telefônica Vivo no 19° Fórum Nacional da Undime, no mês de agosto, Christian apresentou em detalhes a proposta aprovada pelo MEC. De acordo com o professor, a Computação é considerada uma ciência nova e que vai muito além das estruturas de um laboratório de informática.
“Computação não é sinônimo de computador, tecnologia ou internet. Na Educação Básica, ela oferece para o estudante novas formas de se representar uma informação, resolver problemas, socializar e cooperar. São novas possibilidades para que o estudante aprenda a transformar o mundo em que vivemos”, declara.
Nesse sentido, Christian defende a ideia de que a BNCC-Computação seja trabalhada de maneira transversal com outras disciplinas e conteúdos. Dessa forma, os estudantes poderão se preparar para as novas profissões que ainda irão surgir.
“A Computação pode ser trabalhada de forma transversal ou individualizada, como um componente curricular. Sou a favor de que seja de forma transversal porque usamos a tecnologia no dia a dia em muitas frentes. E o estudante também pode utilizá-la de diversas maneiras, de modo que ela seja sua parceira. Queremos que os estudantes estejam preparados para o mundo do trabalho, que vai exigir novas habilidades e competências”, afirma.
A normativa da BNCC-Computação é dividida em três eixos
Cultura Digital, em que trabalha-se a fluidez do uso digital; Mundo Digital, que oferece aos estudantes entendimento de como a tecnologia funciona; e Pensamento Computacional, que proporciona conhecimentos para criação de soluções e resolução de problemas.
Fortalecendo a competência geral n°5 da BNCC
A Cultura Digital é a quinta competência geral das dez que compõem o documento, propondo que estudantes de todas as escolas do país compreendam, utilizem e criem tecnologias digitais de forma crítica, significativa, reflexiva e ética.
Alice Ribeiro, co-CEO/diretora de Articulação do Movimento pela Base, também foi uma das convidadas da sala temática da Fundação Telefônica Vivo no Fórum da Undime. No evento, ela destacou que a inclusão da BNCC-Computação é uma oportunidade de orientar e fortalecer a competência geral nº 5 da BNCC.
“Especialmente com a adequação de habilidades e competências específicas às exigências de conhecimentos técnicos necessários nas diferentes etapas da Educação Básica”, declara. “É muito importante que os professores e as redes de ensino contem com entendimento, formações e apoio, para que o trabalho sobre as competências gerais seja levado a cabo. No caso da competência n° 5, existe um material concreto e de muita qualidade que é a norma da BNCC-Computação”, acrescenta.
As habilidades e competências específicas para cada uma das três etapas da Educação Básica estão detalhadas no documento Tabelas de Habilidades e Competências. Na Educação Infantil são quatro premissas e 11 habilidades. No Ensino Fundamental são sete competências e 20 habilidades no Fundamental I e 22 no Fundamental II. Já no Ensino Médio a Computação será trabalhada por meio de sete competências e 26 habilidades.
Christian Brackmann explica que esse documento foi elaborado para apoiar gestores e professores na implantação da BNCC – Computação. “Assim, há explicações sobre cada uma das habilidades. Além de detalhes sobre a importância delas na área da tecnologia digital, com exemplos de atividades que poderão ser realizadas em sala de aula”, conta.
Investimento em formação docente
No que se refere ao preparo dos professores para o ensino da BNCC-Computação será necessário que as redes invistam na formação dos docentes. Nesse sentido, a resolução publicada em outubro de 2022 aborda que o MEC ficará responsável pela política de formação nacional para o desenvolvimento dos saberes docentes para o ensino da Computação na Educação Básica.
“Mas tem de ser muita formação e formação continuada, principalmente de qualidade. Quem sabe possa ser oferecido um curso de especialização para os professores que vão trabalhar esses conceitos com os estudantes”, pondera Christian. “Também é necessário que haja um carinho pelo material didático, pois o Brasil ainda é carente nesse ponto. Enfim, são várias ações que terão de acontecer para que a BNCC-Computação seja implementada da forma como deve ser no país”, conclui.