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Pesquisas recentes e especialistas reforçam a importância de trazer a Cidadania Digital para a sala de aula

Imagem mostra uma professora negra com três estudantes. Eles estão olhando para livro que estão sobre uma mesa. O fundo da imagem é na cor roxa e há a frase Paz para educar, abrace esse movimento

No Brasil, 22,3 milhões de crianças e adolescentes são usuários da internet. De acordo com dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2021, 93% dos brasileiros, com idades entre 9 e 17 anos, estão conectados. Nesse cenário, a Cidadania Digital é fundamental para promover o uso consciente da internet por pessoas de todas as idades.

Em abril, mês que é celebrado o Dia Mundial de Educação (28), esse conceito mobilizou grande parte das discussões entre especialistas e educadores de todo o país. Diante dos recentes casos de violência nas escolas, tornou-se ainda mais urgente refletir sobre caminhos para educar estudantes de todas as idades para acessar o ambiente digital com segurança e responsabilidade.

Especialistas em diferentes campos da Educação indicam caminhos que podem ser construídos por gestores, professores e estudantes, de forma a trazer de volta o protagonismo da escola como um local de consolidação da cidadania para toda a sociedade.

A formação de crianças e adolescentes para o uso consciente da internet também é uma demanda presente em diretrizes e documentos nacionais. Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), três das dez Competências Gerais estão diretamente relacionadas ao tema: “Conhecimento”, “Pensamento científico, crítico e criativo” e “Cultura digital”.

Leia mais: Por que levar a Cidadania Digital para a sala de aula?

No dia 28 de abril de 2000, na cidade de Dakar, Senegal, líderes de 164 países – entre eles o Brasil – assinaram um compromisso com o desenvolvimento mundial da educação até 2030, durante o Fórum Mundial de Educação. Surgia o Dia Mundial de Educação, data que segue até hoje, mas com desafios diferentes de duas décadas atrás – inclusive do mundo digital.

Uso consciente da internet: em busca do diálogo

Professora de inglês na rede municipal de Valinhos (SP), Luana Marques leciona para turmas noturnas do Ensino Médio e tem optado por fazer conversas com os estudantes durante as aulas, buscando diálogo por meio de uma perspectiva que define como de afeto e de empatia.

Para ela, o primeiro grande caminho está sendo compreender que se não é possível impedir o acesso aos conteúdos disponíveis na internet, é possível encontrar na sala de aula um caminho baseado no diálogo, de como eles consomem esses conteúdos em diversas plataformas, nos jogos e nas redes sociais. “Acho que a mudança é a de capturar a atenção deles no sentido da empatia, da solidariedade e do afeto”, reflete.

Para a antropóloga e diretora do InternetLab, Fernanda Martins, é urgente responsabilizar a moderação de conteúdo das plataformas para seus públicos – sobretudo aqueles formados por crianças e adolescentes. No entanto, ela destaca a importância de saber diferenciar o que deve ser atribuído à internet, e o que deve ser atribuído a outras questões já enfrentadas pela sociedade fora das redes sociais.

“Vivemos um momento de anos de ataque a políticas de equidade de gênero e isso é um fenômeno que vem muito antes da relação dos jovens com a internet, tem a ver com políticas de desmonte sobre o tema e como a educação perdeu espaço para conversar sobre temas como masculinidade tóxica e combate ao racismo”, explica.

 

Cidadanias e educação midiática 

A Safernet, organização não-governamental focada em ações de mobilização, sensibilização e educação para promover um uso ético e cidadão da internet, tem monitorado investigações no ambiente virtual em apoio a diversos órgãos, como em São Paulo, em que auxilia a divisão do estado do Ministério Público Federal (MPF). Em 2022, o total de queixas sobre violações contra os direitos humanos na internet cresceu 67%, chegando a 74 mil registros recebidos pela Safernet.

Para Guilherme Alves, gerente de projetos da Safernet, a relação de adolescentes com as redes sociais precisa ser mais reconhecida como um tema de interesse da sociedade – e não apenas como um desafio localizado e enfrentado por jovens e familiares diretamente afetados pelo problema.

“Precisamos entender também que o contexto do uso de tecnologia na sociedade afeta todos nós, ainda que tenhamos hábitos muito diferentes de uso de tecnologia. Todos nós estamos de alguma forma impactados com as consequências da desinformação. O debate sobre o uso da tecnologia não pode mais ser feito uma vez por ano, precisa estar no cotidiano das escolas e nos seus currículos”, alerta.

O especialista, que também foi um dos convidados do webinar da Fundação Telefônica Vivo em comemoração ao Dia da Educação, reforça a importância da Cidadania Digital para um olhar mais ético sobre as relações estabelecidas com as plataformas digitais.

“Cidadania Digital não só ajuda a pensar nas ferramentas digitais, mas também nos contextos diferentes de usos. Uma criança tem usos diferentes de seus pais sobre a internet. O reconhecimento disso contribui para o protagonismo de crianças e adolescentes diante de novas tecnologias”, reflete.

Jornalista e pesquisadora do Educamídia, Daniela Machado indica a educação midiática como um caminho para trabalhar um uso mais cidadão das redes sociais por meio do incentivo à autonomia dos estudantes diante dos usos tecnológicos. O conceito implica o uso de habilidades para acessar, analisar e utilizar, de forma crítica, conteúdos informacionais em diversos contextos – inclusive no da internet, considerando o que é disseminado pelas redes sociais.

“​​Quando falamos de jovens, acredito que educar para um uso mais consciente e crítico das redes sociais é melhor do que simplesmente proibir. Se eles não puderem desenvolver as habilidades necessárias para navegar com mais segurança e criticidades nesses ambientes, serão privados justamente de fazer um uso mais qualificado deles — conectando-se com especialistas das mais diversas áreas, participando do debate público sobre assuntos que lhes são caros e exercitando a autoexpressão com criatividade e responsabilidade”, explica.

A educação midiática, portanto, é fundamental para a formação cidadã, democrática e participativa dos estudantes. Principalmente, quando considerado que 67% dos estudantes de 15 anos no Brasil não conseguem diferenciar fatos de opiniões na leitura de textos, segundo o estudo O abismo digital no Brasil, realizado pela PwC Brasil em parceria com o Instituto Locomotiva, com análises de dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).

Um espaço para enfrentar desafios atuais 

Como resposta aos desafios atuais das escolas e os crescentes debates sobre a importância do uso consciente da internet, conforme divulgou o jornal O Globo, o Governo Federal apresentou um plano de “Cidadania Digital” que traz ações para promover a cultura de paz e investir na formação de profissionais da educação.

A formação continuada de professores é um passo importante para promover o uso consciente da internet na escola. “Apesar da gente reforçar que a escola tem um papel importante sobre essas discussões, sabemos que é muito desafiador para um professor ou professora em sala de aula conciliar todas as demandas que envolvem a sua própria formação e lidar com essas novas tecnologias e discussões”, afirmou Guilherme Alves, gerente de projetos da Safernet, durante a webinar da Fundação Telefônica Vivo.

“Os professores precisam ser apoiados nesse processo, mas nós sabemos que poucos têm uma formação continuada, de fato, com essas temáticas. A maioria às vezes faz um curso e não continua ou tem ações pontuais ao longo do ano”, comenta.

Para apoiar educadores no processo de refletir sobre uma relação mais cidadã com a tecnologia no ambiente escolar, o curso Cidadania Digital: como ela se conecta com a sala de aula?, da plataforma Escolas Conectadas, traz temas relevantes que instigam o melhor aproveitamento do mundo digital no dia a dia na sala de aula.

Na avaliação do professor de geografia da rede estadual de Campina Grande (PB), Daniel Almeida Bezerra, essa formação é fundamental para ampliar a compreensão sobre o uso das ferramentas digitais de acordo com as diferentes demandas do contexto escolar. “Espero que a gente possa aproveitar esses novos usos das ferramentas para fortalecer a rede de ensino e suas demandas”, afirma.

Para ele, as aulas do curso também representam um canal de diálogo, em que profissionais da educação também podem contribuir com o relato de suas práticas. Um caminho para inovação que, segundo ele, oferece espaço para a valorização de cada território e de cada experiência em cantos diversos do país.

“As escolas precisam de ajuda, ajuda financeira e apoio para desenvolver práticas inovadoras. Mas antes, é preciso ouvir cada um dos componentes dessas comunidades escolares, que têm muito a falar e a ensinar também. A gente chega para ensinar na escola, mas a gente tem muito a aprender. As respostas que eu trago nem sempre vão atender a todo mundo que está precisando naquele momento. Mais importante do que a gente ir rápido, é saber para onde estamos indo”, celebra

Dia Mundial da Educação: como educar para o uso consciente da internet?
Dia Mundial da Educação: como educar para o uso consciente da internet?