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As línguas indígenas correm risco de desaparecer. Saiba como a escola pode contribuir para a valorização dos saberes locais e da identidade dos povos.

#EducaçãoIndígena

Povos indígenas - Educação Indígena

Quantas línguas se falam no Brasil? Além da língua portuguesa, com todas as suas variações regionais, existem 274 línguas indígenas em circulação pelo território nacional. Esse número já foi maior. No início da colonização do país, havia mais de mil línguas faladas pelos povos indígenas que deixaram de existir, e agora, 190 línguas de raiz indígena podem desaparecer sem um plano de educação, segundo a publicação da UNESCO, Atlas das Línguas em Perigo.

O Programa de Escolas Associadas, braço global da instituição, foi criado justamente para amparar as redes que se propõem a preservar a cultura e a identidade dos povos, que enfrentam o risco do desaparecimento. A iniciativa atende 180 países, e no Brasil reúne a segunda maior rede do mundo.

Das 569 escolas associadas brasileiras, quatro são indígenas. “O principal patrimônio cultural de qualquer pessoa é a língua materna”, afirma Myriam Tricate, coordenadora nacional da Rede de Escolas Associadas da UNESCO. “Quando falamos em preservação do idioma indígena, evidentemente estamos falando do trabalho das escolas. É através da escola que as crianças são alfabetizadas e ensinadas a valorizar a cultura delas”.

Por que as línguas indígenas deixam de existir?

De acordo com a coordenadora nacional do programa, as razões para as línguas indígenas deixarem de existir são múltiplas. Além do contato direto com outras culturas, há também o desafio da desagregação de comunidades.

Myriam explica que a tradição, geralmente ligada à narrativa oral nas línguas indígenas, perde o fio condutor conforme os falantes de idade avançada distanciam-se do convívio nas aldeias dispersas. “O papel das escolas indígenas para a preservação da cultura é fundamental. O fortalecimento dessas instituições faz com que novas gerações continuem a acessar a língua materna de seu povo e aprenda os elementos ligados à sua identidade”, afirma.

Isso vale também para as escolas urbanas, dos grandes centros, que não tem a oportunidade de conviver com a cultura indígena. “As pessoas tem uma visão folclórica sobre os índios. Mas a verdade é que compreender e preservar a cultura indígena é uma questão essencial para entender a identidade brasileira”, acrescenta.

A comunidade Pataxó

O professor indígena, Railson Sena Conceição também defende a perspectiva de que as escolas, sejam elas indígenas ou não, se envolvam com temáticas relacionadas aos povos locais como uma forma de valorizar a cultura e desmistificar preconceitos. Inserido na maior comunidade indígena urbana do Brasil, com cerca de seis mil índios, Railson faz parte do povo pataxó. Hoje, ele dirige o Colégio Estadual Indígena Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, na Bahia.

Educação indígena é uma categoria como, por exemplo, escola do campo, quilombola ou ribeirinha. E trata das especificidades da cultura indígena. Nós temos um currículo que, além de ensinar os conhecimentos universais da grade nacional, trabalha os saberes da nossa região, da nossa comunidade, da nossa língua”, diz.

O patxohã é a língua materna do povo pataxó e funciona como uma espécie de grito de guerra, explica Railson. Na História, os pataxós ficaram conhecidos por resistir às imposições do período da colonização. Foi através da língua que eles encontraram uma maneira de resgatar seus valores e se manterem vivos.

A exemplo de escolas não-indígenas que adotam medidas para preservar a cultura e o idioma indígena, a rede de Bertópolis (MG) é a primeira do Brasil a incluir a língua maxakali no currículo das escolas municipais.  Cerca de 20% da população da cidade mineira é indígena e tem o costume de falar a língua tradicional. Pensando nisso, a Prefeitura e a FUNAI local formaram uma parceria para que a iniciativa aproxime a comunidade não-indígena da cultura do povo Maxakali.

A união da escola com os saberes locais

A unidade escolar existe dentro da comunidade desde 2015, é associada da UNESCO, composta por professores indígenas e hoje conta com 525 alunos. A principal característica da escola é trabalhar com projetos temáticos todos os anos. Geralmente, a finalidade é envolver os estudantes e a comunidade com algum aspecto da cultura indígena como: a transformação da escola em um espaço de expressão, saúde mental, espiritual e planetária, cheiros, sabores e conexões com a natureza.

Em 2019, a proposta tem sido trabalhar com a língua indígena em três ambientes: na arte, na natureza e no espírito humano. O projeto foi escolhido a partir de uma poesia de um dos estudantes, que chamou atenção pelo verso: “Que soe os maracás”. O instrumento típico da cultura indígena simboliza a expressão e a voz do índio.

“A escola segue o currículo nacional, acrescentando aquilo que é dela. Nós temos inglês, português, mas o patxohã é a matéria principal”, explica Hayuã Mayõ, coordenadora dos projetos do Programa das Escolas Associadas na escola. “É a identidade do aluno, é onde a gente passa a dar o conhecimento daquilo que a gente guardou dos saberes ancestrais, sem tirar a importância da ciência no processo”, conclui.

Educação indígena nas escolas ajuda a preservar a cultura nacional
Educação indígena nas escolas ajuda a preservar a cultura nacional