Em um país onde milhões de jovens enfrentam desafios para estudar e trabalhar, a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) surge como uma resposta concreta para transformar trajetórias e ampliar oportunidades.
Na semana em que celebramos essa modalidade, é tempo de reconhecer seu papel estratégico na formação de jovens em todo o Brasil. Mais do que uma alternativa educacional, a EPT se consolida como uma ferramenta essencial para enfrentar grandes desafios nacionais: promover inclusão produtiva, fortalecer a economia e reduzir a evasão escolar.
Em um mundo em constante transformação, impulsionado pela tecnologia e pela demanda por novas habilidades, a EPT deixou de ser uma pauta restrita aos especialistas. Hoje, ela ocupa lugar central nas políticas educacionais, contribuindo para garantir direitos, ampliar oportunidades e acelerar o desenvolvimento social.
A nota técnica da Fundação Telefônica Vivo, baseada no relatório Education at a Glance 2025, divulgado pela OCDE, reforça essa urgência. Segundo o documento, quase um quarto dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos está fora da escola e do mercado de trabalho — os chamados “sem-sem”. A taxa brasileira (24%) é significativamente superior à média da OCDE (14%), com destaque para a desigualdade de gênero: 29% das mulheres jovens estão nessa condição, contra 19% dos homens. Esses dados evidenciam a importância de estratégias educacionais que dialoguem com os projetos de vida da juventude — e a EPT é uma das mais promissoras.
Conexão entre escola e setor produtivo
O setor produtivo tem papel estratégico na expansão e qualificação da Educação Profissional e Tecnológica. Em agosto, a Brasscom lançou, em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, a pesquisa Prospecção de vagas de entrada no macrossetor TIC, que ressalta a importância da aproximação entre empresas e instituições de ensino na formação de jovens.
“A pesquisa reforça a necessidade de uma atuação mais ativa das empresas na formação de jovens para o macrossetor de TIC. Isso passa por co-construir currículos com as instituições de ensino, promover experiências práticas como estágios e mentorias e apoiar programas de capacitação em escala. Essa aproximação entre educação e mercado é o que garante inclusão produtiva e fortalece a competitividade do setor”, afirma Roberta Piozzi, Diretora de Projetos e Parcerias em Educação da Brasscom.
Avanços e desafios na oferta de cursos técnicos
Apesar dos avanços, a oferta de EPT ainda é limitada. Segundo o Censo Escolar 2024, há hoje 1,57 milhão de matrículas em cursos técnicos de nível médio, o que representa 17,2% dos alunos do Ensino Médio. Embora esse número tenha quase dobrado em dez anos, ainda está distante da média dos países da OCDE, que chega a 44%, conforme o relatório Education at a Glance 2025.
Entre 2014 e 2023, o número de estudantes matriculados em EPT cresceu 45%, com destaque para as redes estaduais, que concentram mais da metade das matrículas (52,3%). Estados como Piauí, Acre, Espírito Santo, Paraíba e Rio Grande do Sul já ultrapassaram a marca de 20% dos alunos do Ensino Médio matriculados em cursos técnicos.
Impacto da EPT na redução da evasão escolar
Mais do que uma formação voltada ao mundo do trabalho, a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) tem se mostrado uma aliada importante na permanência escolar. Segundo o Censo da Educação Básica 2024, a taxa de evasão no Ensino Médio é de 5,9%. Por outro lado, pesquisas indicam que 8 em cada 10 jovens que abandonaram os estudos voltariam à escola se tivessem acesso a cursos técnicos.
O interesse é motivado, principalmente, pela possibilidade de conseguir um emprego melhor e alcançar reconhecimento social, fatores apontados por mais de 70% dos jovens que desejam retomar os estudos, segundo o estudo “Juventudes Fora da Escola” (2024).
Além disso, a EPT oferece uma via mais rápida para a inserção profissional. Uma pesquisa do SENAI e SESI mostra que 90% dos empregadores consideram a formação técnica o caminho mais eficiente para o ingresso dos jovens no mercado de trabalho.
O futuro da EPT: tendências e articulações necessárias
O Brasil conta atualmente com 176 cursos técnicos distribuídos em 15 eixos tecnológicos, ampliando as oportunidades de formação para os estudantes. Para que essa oferta seja eficaz, é fundamental que esteja alinhada às tendências regionais, às demandas do mercado — cada vez mais impactado pela revolução digital — e às transformações nos padrões de emprego e nas novas profissões que vêm surgindo.
Ampliar o acesso e qualificar a EPT exige articulação entre poder público, sociedade civil, iniciativa privada e instituições de ensino. Essa mobilização já apresenta resultados concretos: crescimento das matrículas, maior integração entre escolas e setor produtivo, atualização dos currículos e inclusão de competências digitais nos itinerários formativos.
O setor de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) é um dos que mais se destacam: dinâmico e com alto potencial de empregabilidade, movimentou R$ 762,4 bilhões em 2024 (6,5% do PIB) e projeta crescimento de 9% ao ano. O estudocitado anteriormente, sobre o macrossetor de TIC, também aponta que 82% das empresas pretendem ampliar suas equipes nos próximos dois anos, com quase metade das vagas voltadas a estagiários e profissionais juniores.
“A pesquisa mostra que as empresas têm investido em parcerias com instituições de ensino técnico; essa aproximação das empresas com a formação é considerada a estratégia mais efetiva para ampliar o acesso a talentos qualificados. Além disso, bootcamps, academias internas e programas voltados a grupos minoritários têm ganhado espaço como caminhos de atração. Para a retenção, os jovens precisam enxergar futuro e, com isso, as ações mais valorizadas são a implementação de planos de carreira, benefícios atrativos e a oferta de trilhas estruturadas de desenvolvimento. Ou seja, atrair exige estar próximo da formação e reter significa mostrar perspectiva de futuro”, afirma Roberta Piozzi.
Iniciativa da Fundação Telefônica Vivo impulsiona a Educação Profissional e Tecnológica
O programa Pense Grande Tech, da Fundação Telefônica Vivo, atua em parceria com redes públicas de ensino para apoiar o fortalecimento da oferta de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) e contribuir para a preparação dos jovens alinhada às demandas de mercado.
Entre as ações desenvolvidas estão a formação de professores, a atualização de currículos e a promoção de atividades pedagógicas que aproximam o conteúdo escolar da realidade profissional, fortalecendo a conexão entre estudantes e o mundo do trabalho.
Em 2024, o programa impactou cerca de 8.900 estudantes e formou mais de 900 professores. Atualmente, está presente em sete redes públicas de ensino do país.