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10.08.2018
Tempo de leitura: 6 minutos

Jeduca: tecnologia, inclusão e diversidade para melhorar a educação

O 2º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado em São Paulo, lança luz sobre a educação no Brasil

Antônio Gois, presidente do Jeduca, está em pé no palco e com microfone na mão durante a abertura do 2º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação

Organizado pela Jeduca, a Associação de Jornalistas de Educação, o 2° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação foi além de traçar um panorama sobre a educação brasileira. Os diversos painéis distribuídos em dois dias de evento em São Paulo apontaram que há apelo na sociedade para trazer o tema ao centro das discussões. Ao menos é o que mostra pesquisa inédita feita em conjunto com o Datafolha, e apresentada no encontro, que mostra que 80% dos entrevistados se interessam em saber sobre educação.

Dessa forma, os debates reuniram especialistas, jornalistas, estudantes, educadores e representantes de órgãos públicos, e propuseram uma imersão, abordando o cumprimento de metas e indicando caminhos para o desenvolvimento de uma educação universal, de qualidade e que acompanhe as mudanças trazidas pelo avanço tecnológico no mundo.

“Que competências a gente vai ter que desenvolver nos jovens, uma vez que vários tipos de trabalho estão sendo extintos?”, questionou em uma das mesas de abertura, Claudia Costin, coordenadora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV.

Renato Janine Ribeiro, professor da USP e ex-ministro da educação, apontou, na mesma palestra, que a sociedade deve assumir a pauta da educação e buscar igualdade de oportunidades no Brasil.

Inovação e novas tecnologias

No painel Tecnologia e inovação na educação, a pedagoga Renata Roberta Pessoa contou sobre o impacto da chegada de tecnologia na escola Manoel Domingos de Melo. Situada na área rural de Vitória de Santo Antão (PE), a instituição recebeu 140 tablets e notebooks por meio do projeto Inova Escola da Fundação Telefônica Vivo e revolucionou o ensino.

“Tivemos de desmistificar muita coisa, respeitando as individualidades de pais e alunos. Estavam acostumados a ver os cadernos lotados de informações. Agora, os cadernos estavam vazios, as crianças com tablets nas mãos e cheias de ideias”, contou a educadora.

Para Renata, os desafios não foram superados com a chegada dos dispositivos, mas se transformaram. Quando os tablets não eram mais novidade, os alunos entenderam que trabalhar em equipe era mais importante. Assim, até mesmo a interação entre eles se modificou. “Hoje eles têm pensamentos crítico. Querem melhorar o local onde moram”, diz.

E com a possibilidade de se aliar tecnologia e ensino, a comunidade também foi chamada para dentro da escola.

.Helena Singer, vice-presidente da Ashoka e que também palestrou no painel, alertou que é comum confundir inovação com tecnologia. Para ela, inovação social é o que as comunidades criam para enfrentar desafios e obterem benefícios próprios. A inovação inspira, mas não se dissemina sozinha. “Ainda estamos criando um novo mundo. A desigualdade terá outra forma, atingindo quem não tem habilidades de lidar com o novo. O desafio é dar condições para que todos tenham possibilidade de se inserirem neste novo mundo”, defendeu.

Priscila Gonsales, cofundadora do Instituto Educadigital (IED), afirmou que é importante se adaptar e saber utilizar as novas tecnologias no ensino. Ela relembrou casos de medidas polêmicas, como a proibição do uso de celular em sala pela França. “Todo mundo usa celular. A questão é que faltam propostas. Não é o equipamento que gera inovação, é preciso ter um uso para aquilo”, finalizou.

Educação com inclusão e diversidade

O congresso da Jeduca não abordou apenas tecnologia no ensino. Claudia Werneck começou o painel Saga da inclusão: desafios da universalização da educação falando alto, mas sem usar o microfone. A intenção foi ajudar pessoas cegas, já que ao se guiarem pela caixa de som, elas geralmente ficam desorientadas e não localizam onde fica o palco. Uma medida eficaz e gratuita de inclusão.

Para a fundadora da Escola de Gente – Comunicação em Inclusão, diversidade e respeito a pessoas com deficiências devem ser abordados sistematicamente nas escolas. “Educação é um bem público e por isso não admite nenhuma discriminação”, enfatizou Claudia.

É o que defendeu Rogério Junqueira, pesquisador do Inep e da UnB. Para ele, problemas como o racismo afetam a qualidade do ensino.  “Um ambiente discriminatório faz a média das pessoas render menos. É uma escola pior. Uma escola antirracista é melhor para todos, inclusive a quem se sente prejudicado, porque vai torná-lo uma pessoa melhor”.

O dia a dia da educação

O Jeduca também deu espaço para quem é protagonista da escola no dia a dia: uma aluna e uma professora compartilharam suas experências da vivência em escolas públicas.

A aluna Aniely Silva está em pé no palco do Jeduca. Ela usa cabelos compridos e trançados e está com microfone na mão.

Aniely Silva, hoje bolsista de Ciências Sociais e orientadora socioeducativa no Centro de Referência e Defesa da Diversidade, subiu ao palco para falar, do ponto de vista de uma jovem lésbica e negra, sobre a falta de representatividade durante o período em que estudou na escola Arthur Chagas Júnior, na zona leste de São Paulo.

Na visão dela, o principal problema é que os estudantes do ensino público não se sentem ouvidos e não são incentivados a se expressar. “Nossos pais vêm de épocas diferentes e vivências diferentes. Minha segunda casa, a escola, também não me acolheu e não me disse que não havia nada de errado comigo. Só quando tive acesso a outros lugares que descobri isso”, discursou Aniely.

Educadora Maria do Socorro está em pé no palco do Jeduca. Ela usa blusa amarela e óculos. Está falando ao microfone sobre a vivência em escola pública

Maria do Socorro Braga Reis deu um depoimento sobre a dificuldade de formação de professores no Brasil. Há 22 anos lecionando na rede estadual do Pará, ela afirmou que a educação só faz sentido se compartilhada e que formação continuada deveria ser mais incentivada.

A educadora também ressaltou a necessidade das universidades e dos governos se aproximarem da escola. “A universidade não conhece a escola. As leis do MEC são feitas de cima para baixo, mas deveriam ser feitas ouvindo os professores, os pais e os alunos. Se a gente pensar que a educação tem jeito, ela terá!”, concluiu Maria do Socorro.


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