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25.03.2025
Tempo de leitura: 13 minutos

Mês da Mulher: conheça três profissionais com trajetórias inspiradoras na tecnologia

Numa área majoritariamente masculina, três vozes femininas detalham o caminho que escolheram para vencer os desafios profissionais, conquistar espaço e motivar mais mulheres

Imagem ilustra matéria sobre a representatividade das mulheres na tecnologia

A participação de mulheres na tecnologia ainda é tímida, mas o cenário tem se transformando de maneira consistente. Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), compilados em uma análise da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, lançada neste ano, revelam que, embora as mulheres ainda sejam minoria no setor, sua participação em cursos de exatas e biológicas cresceu 29% na última década (2013 – 2023). Uma alta importante, mas que contrasta com o aumento de 56% no número de matrículas de homens nos mesmos cursos e no mesmo intervalo de tempo. Por outro lado, a mesma pesquisa aponta que entre os cursos classificados como computação e TIC (Tecnologia da Informação e Comunicações) — que abrange 19 carreiras, incluindo ciência da computação, inteligência artificial e outras graduações ligadas ao ambiente digital, dentre outras — a participação feminina registrou um expressivo crescimento de 368% em uma década, entre 2013 e 2023.

O Censo Escolar 2023 também indica que há predominância feminina nas matrículas dos cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), com 57,9% — totalizando 1,3 milhão de alunas em um universo de 2,4 milhões de matrículas. Já no mundo do trabalho, dados da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais) mostram que o número de mulheres com empregos em tecnologia cresceu 1,5 ponto percentual em relação ao número de homens nos últimos três anos, ocupando 39% das vagas do setor.

Nesse contexto, o olhar cuidadoso para a formação de meninas, no âmbito dos cursos das ciências exatas, incluindo a tecnologia, se faz necessário. Não apenas para que se identifiquem e ingressem nos cursos, mas, sobretudo, para que tenham referências de carreira femininas, ao longo de sua jornada escolar, o que pode mobilizar para a continuidade dos estudos e ingresso na carreira. E é sob essa perspectiva que a Fundação Telefônica Vivo, por meio do programa Pense Grande Tech, promoveu a Mentoria para Jovens Mulheres na área Tech. A iniciativa foi realizada em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina e a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) com o objetivo de apoiar estudantes mulheres de cursos técnicos em tecnologia no desenvolvimento de competências e habilidades para o mundo do trabalho.

Em março, mês que simboliza a luta histórica das mulheres por equidade e reconhecimento, a Fundação conversou com três profissionais da área de tecnologia que atuam na Vivo. Elas estão em estágios distintos da carreira e têm trajetórias plurais no setor: uma jovem-aprendiz, que destaca a sua primeira experiência na área; uma profissional sênior, que enfrenta os desafios de inclusão investindo em qualificação e especializações técnicas, e uma diretora, que chegou ao cargo de liderança aproveitando as oportunidades e encarando os desafios sem medo de se posicionar.

Ainda que seja um campo marcado por disparidades de gênero, o exemplo dessas mulheres reforça que a transformação é possível. Cada uma delas inspira futuras gerações e mostra que inovação e diversidade caminham juntas.

Confira abaixo as conversas:

 

Ana Clara Fogaça, jovem aprendiz em Engenharia de dados

1. Qual curso da faculdade você faz e por que o escolheu? 

Eu estou no primeiro ano de Ciência de Dados e Inteligência Artificial na Universidade Dom Bosco [em Criciúma, SC, onde ela mora]. Eu nem gostava muito de exatas na escola, foi algo que apareceu mais tarde e fui criando gosto.

2. Há muitas mulheres em seu curso? Como você se sente com isso? 

Quando eu fiz o curso técnico, uns dois anos atrás, tinha poucas mulheres, umas cinco numa turma de mais de 20 pessoas. Mas eu nem ligava para isso, não me afetava em nada. Agora, na faculdade, já tem mais mulheres. É um nível mais igualitário.

3. Como e quando você decidiu seguir uma carreira na área de tecnologia?

Foi quando eu fiz o curso técnico em ciências de dados, que era uma parceria com a Vivo. Aí, a empresa abriu vagas para quem fez ou estava fazendo o curso. Eu me inscrevi e consegui a vaga de jovem aprendiz. Estou muito feliz com a experiência.

4. O universo da tecnologia está em constante transformação, com novas descobertas e ferramentas surgindo com frequência. Como você aprimora seus conhecimentos e se mantém atualizada?

Bom, eu acho que para mim é um pouco mais fácil porque eu estou estudando ainda. Enquanto estou estudando, estou aprendendo algo novo. Vejo também muitos vídeos de YouTube sobre os temas das aulas. Assisto os reels, aqueles vídeos curtos, e sempre aparece uma pessoa falando: ‘olha, surgiu tal coisa’. Isso cria curiosidade e vou atrás de um artigo sobre o tema.

5. Já enfrentou algum desafio ou insegurança em relação ao fato de a área de tecnologia ser majoritariamente masculina? 

Sim, um pouco. Quando pensamos num programador, já pensamos em um homem, não é? Há essa questão da insegurança, sim. Eu acho que é normal se sentir um pouco insegura. Até pelo fato de ser mulher nessa área com muitos homens. Tem também os desafios no trabalho. Quando eu entrei aqui na Vivo, eu era a primeira mulher. Mas logo depois veio uma outra jovem aprendiz e agora entrou uma estagiária nova. Eu era a “menininha” da equipe e agora já tem mais outras duas mulheres que estão aqui no time. É muito legal ver isso.

6. Você teve ou tem alguma inspiração feminina na área de tecnologia?

Eu vi um filme chamado “Estrelas Além do Tempo”, que conta a história da Mary Jackson, a primeira engenheira da NASA. E ela era negra, foi uma luta bem forte para ela chegar aonde chegou. Hoje, a sede da NASA em Washington chama-se Mary Jackson. Achei bem legal esse filme. Ela é uma inspiração. Também tem as mulheres que eu vejo no trabalho, na faculdade, professoras. São minhas inspirações do dia a dia.

7. Qual conselho você daria para outras jovens mulheres que querem entrar nessa área? 

Estudem, tem que estudar muito. Eu tenho um irmão mais novo que quer começar a trilhar esse caminho, já está começando a fazer curso. Ele me pergunta: ‘Ah, o que eu posso fazer?’ Eu respondo que tem que estudar.

 

Aline di Karla Silva, arquiteta de soluções sênior

1. Em que curso você se formou e como entrou na carreira de tecnologia?  

Quando eu fui fazer minha graduação, não esperava que um dia eu fosse chegar em tecnologia porque sou formada em administração de empresas. Porém, foi ocorrendo algo meio natural. Eu trabalhei 10 anos com dados e indicadores, e em 2019, migrei para a área de tecnologia. Comecei como analista funcional em negócios de TI. Mas eu queria algo mais e fui me especializar em outros cursos. Fiz Data Science, Analytics, nuvem e vários outros cursos. Hoje, eu estou há quase cinco anos na área de arquitetura de soluções.

2. Você já encontrou alguma barreira, insegurança ou desafio como mulher negra em uma área predominantemente branca e masculina? Se sim, poderia contar um pouco sobre isso? 

Sim, a insegurança é algo presente para muitas mulheres que entram na tecnologia, especialmente mulheres negras. O setor ainda enfrenta desafios de inclusão, e precisamos nos posicionar estrategicamente para garantir espaço e reconhecimento. Minha estratégia para superar esses desafios é investir em qualificação e especializações técnicas, e desenvolver continuamente as habilidades interpessoais.

3. Você teve ou tem alguma mulher que te inspirou na área de tecnologia?

Sim, tive e tenho algumas referências essenciais na minha jornada. Minha irmã Ana Claudia, especialista na área de Tecnologia, me mostrou que mulheres podem ocupar espaços estratégicos no setor. Minha gestora Renata Sayuri, uma profissional com uma bagagem técnica e jornada profissional admirável. Tem Nina Silva – CEO do Movimento Black Money, também.

4. Como você enxerga as oportunidades de crescimento para as mulheres na área de tecnologia? 

É um mercado em expansão, um mercado gigante. Tem muita oportunidade, mas as mulheres têm que estar preparadas. Não pode parar de estudar, tem que estar se qualificando constantemente. E não pode desistir no primeiro obstáculo. Eu tenho objetivos que eu quero conquistar, mas ainda não cheguei lá. É um caminho com altos e baixos. É importante ter objetivos, saber onde quer chegar, se qualificar e estar preparada para quando surgirem as oportunidades.

5. Você acha que há algum diferencial das mulheres que atuam nessa área? Existem tarefas, competências técnicas, sociais ou emocionais, em que elas têm mais facilidade do que os homens?

As mulheres têm uma questão do trato e do trabalho em equipe que são importantes. Acho também que nós conseguimos ter uma visão holística do problema e entender bem o que o negócio exige. A diversidade, com as mulheres trabalhando em equipe agrega bastante.

6. Qual conselho você daria para outras mulheres que querem entrar nessa área?

Estude, estude muito e não desista. Não duvide dos seus conhecimentos, pois todo conhecimento agrega, mesmo se você não estiver na área da tecnologia, pode migrar. Nunca desacredite. ‘Ah, é uma área masculina’. Ah, a mulher não pode isso’. Esse tipo de pensamento é bobagem. A tecnologia precisa de diversidade para inovar de verdade. O mercado está pronto para receber mais mulheres, e cada uma que entra fortalece esse movimento. A mulher pode tudo.

 

Patrícia Orn, diretora de tecnologia de finanças e corporativo

1. Conte, por favor, em que curso você se formou e como entrou na carreira de tecnologia?  

A minha trajetória é um pouco diferente da tradicional, minha graduação é em Ciências Econômicas. Mas, durante a faculdade, eu entrei num programa de trainee na área de tecnologia da Gerdau. E esse programa era uma formação na área de tecnologia. Aprendi a programar nesse primeiro emprego e fui contratada como desenvolvedora de sistemas. Gostei dessa área e acabei seguindo na tecnologia, fui me especializando, fazendo cursos. Eu trilhei a carreira de desenvolvedora, depois de analista de sistemas até chegar num cargo de gestão. Trabalhei na Gerdau, no HSBC e depois cheguei nas telecomunicações. Estou na Vivo há 24 anos.

2. Como foi o início da sua carreira e quais foram os desafios que enfrentou? 

Quando eu comecei, não era tão forte essa questão da diversidade, mas não tive problemas pelo fato de eu ser mulher. Claro que hoje é muito mais confortável, vemos a presença feminina maior em todas as áreas. Mas, principalmente em alguns fóruns que eu participo, em eventos, a presença masculina ainda é muito mais significativa.

3. Como ocupar um cargo de liderança como diretora mulher em uma área predominantemente masculina? Já teve algum desafio ou insegurança por causa disso? Conte um pouco sobre isso.

Eu nunca tive problemas, talvez por sempre trabalhar em empresas grandes. Não tive muita dificuldade de ser uma líder pelo fato de ser mulher. Acho que todas as mulheres se deparam com “piadinhas” machistas, provocações. Mas eu creio que isso acontece em qualquer ambiente, independentemente da área ou do cargo. Já me deparei com situações desse tipo. Mas eu realmente tive sorte. Penso que isso está associado ao trabalho em empresas que têm uma governança forte, que dão um respaldo. Isso contribuiu para não ter tantos problemas nesse sentido.

4. Você teve ou tem alguma inspiração feminina na área de tecnologia? Se sim, como ela te inspirou a seguir na carreira? 

No início da carreira, eu não tinha uma inspiração feminina na minha família nem nas minhas amizades. Na verdade, eu fui a exceção do ambiente. Comecei a estudar para ser professora e percebi que não era a minha praia. Aí, fui pelo caminho das exatas e gostei. No início da carreira, foi muito mais uma questão de eu gostar do assunto, do desafio. Era uma área nova nas empresas. Mas quando eu fiz o programa de trainee, a principal professora que me ensinou a programar, era mulher. Achei isso ótimo! Uma mulher que sabia programação e entendia mais de computadores que os meninos!

5. Como você enxerga as oportunidades de crescimento para mulheres na área de tecnologia?

Eu vejo que tem muita oportunidade. Aumentou a presença de mulheres na área de tecnologia. Claro que ainda tem alguns campos que tem uma presença masculina maior, mas a área de tecnologia é muito ampla. A presença masculina é maior em setores de infraestrutura e operações. Mas nas áreas de projetos e de desenvolvimento de solução, a presença feminina está mais equilibrada. Tem tido mais estímulos para isso. Desde criança, as meninas já têm um estímulo na escola ou na própria família para gostarem de temas relacionados à tecnologia.

6. Você acha que há algum diferencial das mulheres que atuam nessa área? Existem soft ou hard skills, ou tarefas, em que elas têm mais facilidade que os homens?

É difícil essa pergunta. As mulheres têm um perfil, talvez, mais de integração. Eu vejo as mulheres trabalhando muito bem em equipe. Talvez também com uma empatia maior. As mulheres têm um papel de agregar. Isso é uma fortaleza das mulheres. Não que os homens não tenham. Mas eu acho que é uma característica feminina. Isso ajuda muito no trabalho.

7. Qual conselho você daria para outras mulheres que querem alcançar posição de liderança, como você, na área de tecnologia? 

É encarar o desafio e ter coragem. Não se sentir intimidada mesmo em ambientes que são mais masculinos. A mulher hoje já vem sendo preparada para ter voz ativa. É muito importante as mulheres se posicionarem, darem a sua contribuição, não se sentirem intimidadas. A partir do momento conseguem fazer isso, começam a ser parte do grupo e tornam-se reconhecidas pelas capacidades e habilidades. O conselho que eu dou é coragem de se posicionar. Tem um outro conselho que eu sempre dou para as mulheres que eu faço mentoria. Mesmo tendo melhorado muito, a mulher ainda tem uma carga maior de trabalho em casa, na família, com os filhos. A mulher tem a tendência de querer dar conta de tudo sozinha. E isso faz com que muitas até desistam das suas carreiras. Então, não tenham medo de pedir ajuda.


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