No Dia do Cinema Brasileiro, Laís Bodanzky fala sobre Cine Tela Brasil e transformação social
Confira a entrevista exclusiva com a cineasta e roteirista que dirigiu o premiado Bicho de Sete Cabeças e o documentário Cine Mambembe
Desde a década de 1970, 19 de junho é considerado o Dia do Cinema Brasileiro. De lá para cá, mudanças consideráveis envolveram a Sétima Arte, muitas por conta de avanços tecnológicos que proporcionaram saltos de qualidade nas produções e novas possibilidades de difusão das obras.
Mais recentemente, as chamadas novas tecnologias elevaram o cinema ao papel de agente de transformação social e deram papel de protagonista a quem, antes, era apenas espectador. É sobre isso que Laís Bodanzky conversa com a gente.
Laís é idealizadora do projeto Cine Tela Brasil, que patrocinamos desde o início, em 2004, e já levou uma sala de cinema itinerante a mais de um milhão de pessoas que nunca haviam assistido a uma sessão na vida.
Você acredita na tecnologia como ferramenta de transformação social?
Certamente. Não só o cinema, mas o audiovisual vive um momento especial. Antes, só produzia quem tinha dinheiro. Era uma comunicação nas mãos da elite econômica. Hoje, com celulares e máquinas fotográficas, as pessoas podem criar seus próprios discursos. Não são mais apenas consumidoras. Elas produzem e podem difundir, graças à internet. É uma grande transformação social.
A magia da telona torna o cinema um instrumento de transformação ainda mais poderoso?
Todas as telas são especiais e têm seu glamour. As pessoas olham para uma tela e pensam: “estou ocupando o mesmo espaço do Brad Pitt”. E o brasileiro sempre teve destaque na área musical, por exemplo, porque fazer música sempre foi barato. Basta talento e uma caixinha de fósforo. Hoje, como as novas tecnologias possibilitam o protagonismo na produção audiovisual, o brasileiro se destacará também nessa área. Criatividade não falta.
O que falta para que todos tenham acesso não só ao cinema, mas à cultura em geral no país?
Hoje, só os grandes centros têm estrutura para promover cultura. Sendo assim, a Internet é muito importante para levá-la aos locais mais afastados. Só que a questão é muito mais complexa do que isso: nós não temos o hábito de consumir cultura. Esse hábito precisa ser criado e tem que começar em casa e na escola, sem deixar de lado a responsabilidade do governo, que também precisa usar mecanismos para incentivar a cultura.
Sobre o Cine Tela Brasil, que balanço você faz desses nove anos e quais são os objetivos?
No que diz respeito à proposta de levar cinema a pessoas que nunca tiveram acesso a ele, o projeto é um sucesso. Mas confesso que ainda sinto o Cine Tela Brasil como uma gota no oceano. O Brasil é enorme e ainda tem muita gente que nunca assistiu a uma sessão de cinema. Por isso, a partir de 2014, quando o projeto completará dez anos, vamos iniciar um grupo para analisar como dar escala a ele.