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Artigo escrito por Christian Gebara, CEO da Vivo e presidente do Conselho da Fundação Telefônica Vivo, publicado no jornal Valor Econômico, em 28/02

#Educação

Imagem mostra uma estudante negra, com cabelo ondulado, solto, em uma sala de aula, sentada em uma cadeira, escrevendo em um caderno com a mão esquerda

Os estudantes brasileiros não apresentam uma evolução significativa no conhecimento de leitura, matemática e ciências desde 2009. Os últimos números do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), divulgados em dezembro e relativos ao exame de 2022, mostraram que a educação brasileira continua com resultados inferiores a de países desenvolvidos entre os jovens de 15 anos, que estão na reta final dos estudos. Dois outros dados divulgados no final de 2023 também chamaram a atenção para a gravidade do problema da educação no país que, embora apontada como prioridade pelos brasileiros, continua sem melhora efetiva.

Christian Gebara, CEO da Vivo e presidente do Conselho da Fundação Telefônica Vivo

Estudo do Insper, a pedido da Fundação Itaú, mostra que o PIB brasileiro poderia aumentar até 2,32% se o acesso dos alunos ao ensino médio técnico profissional fosse triplicado. Hoje, apenas 11% dos jovens brasileiros fazem o ensino técnico, ante 44% nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A pesquisa revela que o salário de quem cursou ensino técnico é 12% superior ao de quem fez apenas o médio.

Somos lembrados sobre a necessidade de melhorar a nossa educação sempre que uma nova pesquisa é divulgada. Mas o Brasil vem solapando em silêncio e lentamente sua capacidade de crescimento econômico por meio de uma educação de qualidade e consequente avanço na produtividade, estagnada há quase 40 anos no país.

Não existe uma solução única para essa difícil questão. Mas o ponto de partida deve ser a formação e a valorização do professor. Ser professor é um ofício complexo que não vem sendo tratado com a devida atenção. Não é à toa que o Brasil tem obtido esses resultados nas avaliações de aprendizagem. Precisamos de professores bem formados, com boas condições de trabalho e que tenham uma carreira à altura do seu desafio, que é educar os nossos estudantes.

Como qualquer carreira, a docência não pode ficar parada no passado. A era do professor analógico está no fim. O educador precisa trazer para os seus alunos um futuro que já chegou, de desenvolvimento das suas competências digitais em sala de aula. A tecnologia e a digitalização não vão substituir o professor. Vão potencializar a aprendizagem. No Brasil, dados de mais de 130 mil professores respondentes da autoavaliação de competências digitais do Centro de Inovação da Educação Brasileira (CIEB) mostram que a fluência dos educadores no tema ainda é baixa.

Para a conectividade das escolas, os recursos existem. A Estratégia Nacional das Escolas Conectadas (Enec), lançada em setembro último, conta com recursos de R$ 8,8 bilhões oriundos em parte das companhias de telecomunicações. Mas, das 40 mil escolas que ainda não têm conexão ou estão distantes da rede de fibra e 98 mil com conexão insuficiente, apenas 177 realizaram isso de fato no projeto piloto. A Enec, portanto, caminha lentamente.

Um segundo fator é garantir que os alunos tenham acesso a currículos de qualidade, nos quais a questão digital entre de fato. Isto não significa necessariamente infraestrutura no estado da arte. Mas tratar de temas como pensamento computacional, que é basicamente raciocínio lógico, capacidade de abstração, falar sobre algoritmos e afins conforme o complemento à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que já existe desde 2022. Pesquisa encomendada pela Fundação Telefônica Vivo mostra que apenas 6% dos municípios brasileiros se prepararam para desenvolver competências digitais nas suas escolas. A partir de 2025, o Pisa vai avaliar também essas habilidades entre os estudantes.

Uma terceira frente essencial é garantir um ensino médio de qualidade. Além de mais horas em sala de aula, com ensino em tempo integral, o estudante nesta fase deveria ter mais intensidade tanto em sua formação básica como também em uma base de conhecimento que possa se converter em geração de emprego e renda. Isso significa conteúdos bem fundamentados, além de dar ao aluno a possibilidade de eleger aquilo que tem vocação e interesse. A votação da reforma do ensino médio pelo Congresso que, em tese, significa abarcar essas mudanças, foi adiada de 2023 para este ano.

O desinteresse dos jovens brasileiros no ensino médio causa uma taxa de evasão de 24,3%, a terceira do mundo entre os 100 países com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Uma dessas áreas de interesse deveria ser a tecnologia, na qual existe uma demanda gigantesca e apetite entre os jovens, além de falta de acesso para os mais vulneráveis. A Fundação Telefônica Vivo, em caráter experimental, já formou uma turma de alunos de ensino técnico em ciência de dados no programa Pense Grande Tech. Uma formação tecnológica para os alunos teria impacto em todas as áreas da economia, da saúde à comunicação.

Por fim, mas não menos importante, é essencial um olhar para a questão racial. Além do pouco avanço na educação, a distância entre alunos brancos e negros é de mais de três anos na aprendizagem de disciplinas como a matemática. O fosso começa no ensino fundamental. Portanto, para cumprir a missão da digitalização, precisamos também resolver a equidade racial no ensino. Um exemplo, que já usamos na Fundação Telefônica Vivo, é criar planos de aulas para os professores utilizarem uma abordagem antirracista.

Acreditamos que um conjunto de medidas, cuja base são esses pilares de valorização do professor, currículos melhores, ensino técnico conectado com o mercado de trabalho e qualidade no ensino médio, se adotado pelo Brasil ao longo de três governos, poderia fazer com que o país avançasse muito no Pisa. Isso poderia nos colocar em um desempenho mediano na educação, se comparado com a OCDE, mas ainda abaixo dos países com melhores notas e, portanto, acima da média.

A exemplo da histórica aprovação da reforma tributária, após mais de 30 anos de debate, em 2024, o país tem a oportunidade não só de lançar as bases para profundas transformações educacionais no ensino médio e no programa de escolas conectadas, mas, acima de tudo, implementá-las com efetividade. A cada dia de sala de aula ruim e desinteressante, matamos um pouco do nosso amanhã. A educação é o nosso passaporte para o futuro.

*Artigo publicado originalmente no jornal Valor Econômico.

Passaporte para a educação do futuro
Passaporte para a educação do futuro