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Análise de 6 mil projetos do programa Desafio Criativos da Escola mostra que os jovens são parte da solução para transformar a educação e a sociedade pós-pandemia

#Educação#Estudantes

Menino em frente a uma lousa sorri e olha para o alto

Uma das principais preocupações para o cenário da educação pós-pandemia é o distanciamento entre os jovens e a escola ao longo dos últimos dois anos. Mas quando vemos os próprios estudantes fazerem parte da solução, propondo melhorias para a educação, entendemos que nem tudo está perdido. É o que mostra o estudo  Liga Criativos da Escola, realizado pelo Instituto Alana em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

O levantamento, lançado em julho de 2021, considerou os mais de 6 mil projetos que participaram do programa Desafio Criativos da Escola desde 2015. A iniciativa premia ações transformadoras criadas por estudantes e  já reuniu 48 mil jovens e 10 mil educadores em cerca de 1000 municípios brasileiros.

“A Liga surge do desejo de contribuir com o campo da educação, pensando a partir do protagonismo jovem. A ideia foi sistematizar um panorama das ações transformadoras que já vêm sendo propostas pelos estudantes como alternativas para os desafios dentro e fora da escola”, explica Gabriel Salgado, coordenador do Criativos da Escola.

Temas como educação, promoção do bem-estar e das relações interpessoais, preservação do meio ambiente e melhoria do espaço escolar aparecem entre os principais motivadores dos jovens. Além de mapear as principais linhas de ação dos projetos, o estudo realizou entrevistas em profundidade e estimou o alcance de todas as ações avaliadas. Cerca de 400 mil pessoas foram impactadas pelas iniciativas dos estudantes.

“Temos ações que mudaram completamente uma prática pedagógica dentro da escola, mas também projetos que expandem o alcance para além dos muros, chegando até mesmo a virar projetos de lei. Isso mostra a potência de criar espaços para que os estudantes contribuam com as soluções, sobretudo no contexto de retomada das aulas presenciais”, reflete o coordenador.

Infográfico com os principais resultados do estudo Liga Criativos da Escola

Educação para a cidadania

Apesar de também levar em consideração projetos anteriores à pandemia, o estudo busca reforçar o papel da educação cidadã no desenvolvimento integral dos estudantes e da sociedade. Espaços como grêmios estudantis, feiras de Ciência, campeonatos, rodas de conversa e gincanas são só alguns exemplos de como estimular ações transformadoras.

“A ideia é fazer um chamado para que as redes públicas pensem em maneiras de incentivar a participação dos estudantes e o trabalho dos educadores nesse sentido. Temos consciência de que nem todos os jovens se engajam em ações transformadoras, mas é importante que haja um convite”, reflete Gabriel Salgado.

O coordenador do Desafio Criativos na Escola acrescenta, ainda, que o estudo representa apenas um recorte. Embora tenha mapeado projetos em todos os 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, Gabriel chama atenção para outras tantas histórias e iniciativas que não foram contempladas pelo programa do Instituto Alana.

“A mensagem que fica é a de que os estudantes estão se responsabilizando pelo que acontece na escola e trabalhando com seus educadores para além do que podemos mensurar. Queremos ressaltar essa colaboração como uma grande potência de construção coletiva do espaço escolar pós-pandemia”, conclui.

 

Quem transforma a educação na prática? 

Tudo começou com uma roda de conversa. Os estudantes do Ensino Fundamental do Colégio Municipal Professora Didi Andrade, em Itabira (MG), decidiram organizar um grupo de apoio para debater sobre a homofobia. A partir da primeira reunião, outros assuntos surgiram, como racismo, bullying e machismo, reforçando o quanto aquele espaço de diálogo era importante.

Assim foi criado o Fora da Bolha, um dos projetos premiados pelo Desafio Criativos da Escola, em 2019. Além das rodas de conversas, o grupo realizou entrevistas em profundidade com estudantes, baseando-se nelas para roteirizar vídeos que foram postados em um canal do YouTube. O objetivo é conscientizar a comunidade escolar e criar identificação entre os jovens.

“Para resolver um desafio, temos que começar dando visibilidade a ele. A partir dessa dinâmica, os próprios educadores sentiram-se confortáveis para trazer esses temas para a sala de aula. Isso nos ajudou a estreitar laços de confiança e mostrar para outros estudantes que eles tinham um espaço seguro para expressar o que sentiam e fazer a diferença”, conta Maria Clara Lacerda dos Santos,14, integrante do Fora da Bolha.

 

Escola acessível 

Também em 2019, três estudantes da Escola Sesi Industrial Abelardo Lopes, em Maceió (AL), deram início a um projeto para tornar o espaço escolar acessível para os estudantes com deficiência visual. A princípio, a ideia do grupo era promover palestras de conscientização mas, ao ouvir as reais necessidades da comunidade, a proposta foi ampliada.

Por incentivo da professora de Geografia, Andrea Silva Souza, o grupo visitou uma instituição local que atendia pessoas com deficiência visual. Ao entrevistá-los, os jovens descobriram que locomover-se com autonomia era o principal desafio em quase todos os espaços que frequentavam. A partir de então, surgiu a ideia que deu nome ao projeto Placas em Braile Sustentáveis.

As placas não apenas foram instaladas no Sesi, mas também na Escola Estadual Cyro Accioly e no Bloco de Sistemas de Informação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), no campus de Penedo.

“As placas são confeccionadas com materiais recicláveis e implantadas em salas de aula e corredores para facilitar a locomoção com autonomia. Além de impactar positivamente a vida dos estudantes com deficiência visual, o projeto tem como objetivo preservar o meio ambiente”, explica Jayane Melo, 17, integrante do Placas em Braile Sustentáveis.

Quais são os temas que mobilizam estudantes para transformar a educação?
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