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Duas jovens makers falam sobre o potencial criativo de seus bairros e das soluções que nascem da resolução de problemas.

Duas jovens makers falam sobre o potencial criativo de seus bairros e das soluções que nascem da resolução de problemas.

Em tudo quanto é canto das comunidades cariocas, a criatividade brota. No pequeno cômodo de uma casa, primeiro se junta um computador, depois outro, e logo os meninos estão amontados ante as telas, navegando pela internet da nova lan house. O mototáxi sobe o morro para alcançar ruas onde carros não vão. O lixo vira arte, chapéu e bolsa nas mãos de habilidosos artesãos do comum. Maker pode ser uma palavra estrangeira e a cultura maker um movimento recente, mas, nas favelas, todo mundo sempre teve um pouco de inventor e fazedor.

“As pessoas da favela herdaram isso da época da escravidão. Os escravos não tinham comida e só ganhavam restos, então nasceu a feijoada. Quando não tinham o que fazer na senzala, dançavam e inventaram a capoeira. Foi a necessidade que possibilitou todo o tipo de criação.” Quem explica isso é Sabrina Martina, moradora do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Com apenas 18 anos, ela é uma locomotiva criativa: escreve, rima, produz, faz audiovisual e teatro, quer se formar em jornalismo.

Isys, com 15 anos, sonha em ser cientista. Quando começou a estagiar no laboratório de biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sentiu necessidade de contar como era a experiência de ser jovem de comunidade nesse ambiente, e também de desmistificar o que é ser cientista: “Não é só alguém de jaleco branco. Eu queria mostrar o que acontece na produção de remédios e na rotina da clínica”. Nasceu assim seu canal do YouTube Eu Mesma. Conhecendo o quão potente é a cultura maker nas favelas, ela acredita que todo maker tem um pouco de cientista, por sempre experimentar e aprender com seus erros.

https://youtube.com/watch?v=phSt5M8c2-4

As duas makers fizeram parte da residência Favelado 2.0, iniciativa do projeto GatoMÍDIA. Em duas semanas, 20 jovens participaram de uma imersão com profissionais de comunicação social de áreas como produção de vídeo, cinema, jornalismo, fotografia e fanzine. As oficinas tinham como foco fazer com que eles se descobrissem em todo seu potencial criativo, utilizando tecnologias e mídias digitais. Eles criaram ou aprimoraram projetos próprios, além de registrar a cultura maker dentro das comunidades. O registro da experiência culminou no documentário Quem São Os Makers da Favela?

Foi durante as rodas de imersão que Sabrina notou o quanto a pedagogia da imersão diferia de sua escola: ao invés de alunos enfileirados, uma roda horizontal, onde todos podiam se expressar. Ao contrário de assuntos não discutidos no ambiente hierárquico, um espaço onde se falava sobre o que é habitar a favela, e como olhá-la por meio de uma perspectiva positiva. “Quem é favelado, o que é ser favelado? É mesmo com a ausência do Estado, produzir e criar”, ela explica. “Ser favelado é o bicho! Percebi como a favela é potente, e tem muita gente em faculdade que não consegue fazer o que fazemos no nosso cotidiano.”

Isys integrou o grupo responsável pela fotografia, e com a câmera em mãos foi procurar os makers da favela. Ela relembra como os moradores ficavam surpresos ao ouvir que tudo o que sempre fizeram os tornava makers: “Explicávamos para eles que o que criavam não era só jeitinho brasileiro, e sim algo inovador”. Essas andanças também serviram para mostrar aos jovens e os próprios moradores que cada favela é uma favela, com todas as suas peculiaridades, e que cada morador também é diferente de seu vizinho, cheio de complexidades e potenciais.

Após a residência, Isys e Sabrina integram a linha de frente de divulgação do projeto GatoMÍDIA, militando por si próprias mas também por outros jovens de comunidades do Rio de Janeiro. Elas se dizem meninas muito diferentes das que entraram na residência. “O GatoMÍDIA me abriu um novo mundo: sempre gostei de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas antes da residência eu não sabia como me organizar ou ajudar as pessoas”, conta Isys. Sabrina não se achava capaz de produzir nada, e se descobriu uma maker de mão cheia. “Se eu não tivesse feito o curso, ia virar um zumbi do sistema. Hoje eu sou outra pessoa”, ela conclui.

Quando a necessidade incentiva a criatividade: conheça a cultura maker de comunidades no RJ
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