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Nas redes de ensino de Goiás e São Paulo, a cultura de avaliação de dados influencia a tomada de decisões de escolas e professores

#Educação#EnsinoMédio#TecnologiasDigitais

Em sala de informática, estudantes utilizam computadores para analisar dados e gráficos.

Para mim foi uma reviravolta. Antes eu não prestava atenção nas aulas, não gostava de fazer tarefa. Mas esse trabalho foi o que eu tive mais interesse em participar e ajudar meus colegas”, revela Rafael Coleto, estudante do primeiro ano do ensino médio do Centro de Ensino em Período Integral (CEPI) Professor Pedro Gomes, localizado em Goiânia (GO). Ele se refere a um projeto chamado MiniCenso, que fortaleceu a cultura de avaliação de dados e mostrou os benefícios que ela pode trazer para o ambiente escolar.

Iniciado em 2022, o projeto de integração curricular envolveu todos os estudantes do ensino médio na realização de um recenseamento dentro da unidade escolar. Um dos grandes diferenciais deste trabalho, segundo o gestor do CEPI, José Gomes Neto, foi ter dado aos jovens a oportunidade de discutir e formular as questões que guiaram a pesquisa. “Quando fazemos isso partindo da gente como propositor das perguntas, falamos do lugar no qual a gente ocupa no mundo”, observa.

 

Potencial da cultura de avaliação de dados

Durante o projeto, os estudantes elaboraram perguntas sobre a configuração familiar – incluindo a possibilidade de elas serem formadas por dois pais, duas mães ou mães solo -, sobre os meios de transporte que os alunos utilizam para chegar à escola e sobre insegurança alimentar, além de questões como a autodeclaração étnico-racial, entre outras.

“Ficamos surpresos com a potência dos dados gerados”, revela o gestor. “A gente conseguiu pensar muita coisa em relação ao nosso plano de ação.” Como exemplo, os resultados do MiniCenso, que contou com mais de 400 respostas, direcionaram uma campanha de matrículas, já que ele mapeou as regiões em que o corpo discente vive. “Com isso, descobrimos que nem sempre são estudantes que estão próximos à escola, mas são de uma região cuja linha de ônibus é mais fácil para chegar aqui. Assim, fomos visitar as escolas que ficam nessas regiões para apresentar o CEPI e a educação em tempo integral, e tivemos uma ótima adesão de novos estudantes.”

 

Interpretação dos dados

Para além da coleta de informações, a escola também estimula que os estudantes se aprofundem nos resultados, incentivando-os a realizar uma análise crítica por meio de textos dissertativos e bibliográficos. “Eles têm que entender que a geração de um dado não é nada se ele não for interpretado”, pontua Neto. Os resultados também ajudaram a gestão escolar a definir quais serão as disciplinas eletivas e as trilhas de aprofundamento em quatro áreas do conhecimento: ciências humanas, linguagens, ciências da natureza e matemática.

Segundo o gestor, o sucesso do projeto fez com que a coordenação de Educação Integral da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) de Goiás avaliasse a aplicação do MiniCenso em outras escolas da rede. “Esses dados apoiam na elaboração de um plano de ação muito mais assertivo e formatado com a realidade de cada escola”, opina. E complementa: “a gente só consegue ter clareza de algumas coisas a partir do momento que temos informação, e isso é um caminho sem volta. No dia a dia da gestão, a nossa tomada de decisão e a nossa capacidade de análise de uma determinada questão passa pela informação que nós já obtivemos.”

 

A cultura de avaliação de dados na pedagogia 

A tomada de decisões baseadas em uma cultura de avaliação de dados – também conhecida pelo seu nome em inglês, data driven – é uma tendência que vem se fortalecendo nas escolas brasileiras. Afinal, para além das avaliações oficiais, os educadores também registram evidências de aprendizagem e as correlacionam com os desempenhos escolares de seus estudantes. Além disso, ferramentas digitais têm apoiado esse processo, fazendo com que o volume de informações que circulam nas escolas seja cada vez maior.

Atualmente, a aplicação da cultura de avaliação de dados na pedagogia permite que muitos profissionais tenham uma leitura mais real dos níveis de aprendizados dos alunos, sendo um fator primordial para a identificação das necessidades dos estudantes e para a criação de soluções personalizadas de ensino.

Coletar, analisar e agir

Para o cientista de dados Arthur Silva, autor do texto “Data-Driven Education: 8 estratégias de implementação para escolas”, a cultura de avaliação de dados na educação deve basear-se em três pilares:

  • Coleta de informações: a escola deve definir indicadores de acompanhamento, reunir informações a partir deles, realizar coletas padronizadas, observações orientadas e criar um banco de dados com informações;
  • Análise de dados: separar as informações essenciais das informações não essenciais. Observar os padrões e mergulhar nas razões por trás desses resultados. Tirar conclusões e formular planos de ação;
  • Executar a ação: A partir dos resultados, colocar em prática suas ações, traçar metas e calendários sistemáticos de coleta de informações.

“A cultura de avaliação de dados tem como principal objetivo tratar esse universo de dados e informações, traçar pontos úteis e essenciais para a gestão escolar e, a partir de então, transformá-los em dados relevantes que auxiliem nas tomadas de decisão e na melhoria dos indicadores, sejam eles estratégicos ou diretamente ligados ao ensino em sala de aula”, escreve o cientista.

 

Análise para a tomada de decisão

O MiniCenso do CEPI Pedro Gomes é um exemplo concreto de como a cultura de avaliação de dados em escolas está sendo incentivada pela Seduc de Goiás. “Há alguns anos, começamos a nos debruçar sobre a gigantesca malha de informações gerada pelas nossas escolas para apoiar a nossa tomada de decisão”, afirma Márcia Rocha Antunes, diretora pedagógica do órgão.

“A capacidade não apenas de organizar as informações, mas de analisá-las e usar essa análise para a tomada de decisão é fundamental. O que a gente tem feito com as escolas é estimulá-las e prepará-las para que consigam transformar essa análise em um plano de atuação, uma possível intervenção para que a gente mude essa realidade”, observa Márcia.

 

Humanizar os processos

A diretora pedagógica é honesta ao dizer que a cultura de avaliação de dados ainda está em processo de construção nas escolas do estado, sendo necessário estimular este olhar nas formações docentes. “Ainda não temos algo institucionalizado. É um processo de capacitação do profissional de educação como um todo que vai demandar um certo tempo, os professores não vão simplesmente mudar os seus caminhos sem que a gente amplie o seu repertório.”

Também gestora na rede estadual goiana, Eliane Cristina, diretora do CEPI Aécio Oliveira de Andrade, reforça que a cultura de avaliação de dados apoia os profissionais de educação a “entender a razão das coisas estarem acontecendo dentro da escola”. “Conhecer e empregar dados no ensino vai além de ser apenas um levantamento objetivo: ajuda a escola no cumprimento da sua função social, de incluir, de cuidar. A gente precisa humanizar os processos, e um requisito para isso é conhecer. Isso faz uma diferença tremenda e será um divisor de água para nós.”

Redes estaduais incentivam que escolas adotem uma cultura de avaliação de dados
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