QR Doar é uma solução para fazer com que a doação de notas fiscais seja mais simples, tanto para o doador quanto para a entidade.
QR Doar é uma solução para fazer com que a doação de notas fiscais seja mais simples, tanto para o doador quanto para a entidade.
A sobrevivência do terceiro setor depende de quem está disposto a doar. ONGs, entidades e instituições se desdobram em esforços de divulgação para tornar suas iniciativas conhecidas o suficiente para uma arrecadação significativa de fundos. Em 2007, o Governo de São Paulo instituiu o Programa Nota Fiscal Paulista, onde uma porcentagem das notas fiscais sem CPF servem como renda para entidades paulistas cadastradas. Desde a implementação, foram arrecadados aproximadamente R$ 400 milhões.
Ainda que o valor seja alto, e que haja planos de aumentar o número de entidades beneficiadas – hoje são 2299 –, o sistema de cadastramento de notas fiscais requer burocracias. Para ter direito às doações, as entidades devem cadastrar manualmente cada uma das notas fiscais; também é um empecilho que as notas sejam aceitas somente se registradas até o dia 20º dia do mês seguinte à sua emissão. O entrave pode significar a diferença entre a entrada de uma quantia significativa de dinheiro ou a falta de fundos para uma causa.
Em julho de 2016, jovens do curso de Engenharia de Computação da USP São Carlos receberam um desafio. Durante o semestre de uma disciplina sobre criação de softwares, eles tinham de desenvolver um com propósito social, que extrapolasse os limites da sala de aula. A ideia partiu da professora Simone Souza, no desejo de tornar a disciplina mais atraente para os alunos que a cursam. Em parceria com duas startups, a Arquivei e RunWeb, foram identificados dois problemas que possibilitariam a criação rápida de um software que incentivasse o ato de doar com foco nas notas fiscais.
“Estamos em uma universidade pública, mantida pelo Estado. Então é muito legal que nós trabalhemos para devolver algo à sociedade, para que ela possa usar de maneira fácil e efetiva”, explica Simone Souza, professora que coordenou a disciplina. Foi um dos sócios que lhe apresentou a ideia de auxiliar o Instituto Fazendo História, em São Paulo, que trabalha com crianças e adolescentes em sistema de acolhimento. Em grupo, eles criaram o protótipo de um aplicativo para facilitar a relação entre o doador da nota fiscal e a instituição beneficiada.
Nasceu então o QR Doar. Marcello Costa, estudante de engenharia da computação e um dos criadores, explica o funcionamento: “Desenvolvemos um aplicativo para o Android e também um servidor para atender as requisições do aplicativo. Quando uma pessoa quer doar, ela entra no aplicativo e utiliza uma aba de leitura do código QR. Nosso servidor valida a nota e a instituição tem acesso às doações por meio de uma plataforma online”. Marcello complementa: o aplicativo permite ao usuário saber o quanto ele contribuiu com a causa, o que faz com que se sinta motivado a doar novamente.
Simone avalia a experiência como positiva para os alunos: não somente eles puderem desenvolver uma solução para um problema concreto, como também tiveram a oportunidade de trabalhar em um projeto, testando sua criatividade e como seus planos de negócio se conectam com os problemas fora da sala de aula. A bem sucedida empreitada pode servir de chamariz para que outras empresas queiram desenvolver soluções junto com a universidade, atando pesquisa e experiência em mercado.
Para Marcello Costa, a disciplina foi uma oportunidade única entre as outras disciplinas cursadas. “É muito mais interessante quando você consegue ver o seu trabalho e aquilo que aprendeu sendo realmente usado pelas pessoas, não só avaliado como nota por um professor.” Ainda em fase de finalização, o aplicativo já auxiliou o Instituto Fazendo História, e foi desenhado para ser adaptável a outras entidades.