Nota técnica "Educar na era da Inteligência Artifical: Caminhos para a BNCC Computação"

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30.09.2019
Tempo de leitura: 6 minutos

Betelhem Dessie leva ensino de programação a milhares de jovens na Etiópia

Educadora e empreendedora social africana ensina programação e pensamento computacional para empoderar meninas e transformar realidades

Imagem mostra a jovem Betelhem Dessie de camisa azul e branca. Ao fundo se vê a cidade de Addis Abeba, na Etiópia

Betelhem Dessie tem 20 anos e já é uma programadora e empreendedora social de sucesso. Contudo, o mais impressionante é o papel que desempenha como educadora: ela já levou o ensino de programação a cerca de 20 mil crianças e adolescentes na Etiópia.

Nascida e criada em Harar, no leste do país africano, a trajetória de Betelhem no mundo da tecnologia teve início por meio de um computador na loja de eletrônicos do pai dela. Como filha de comerciante, aprendeu a dar valor ao dinheiro e foi isso que a moveu a querer expandir seus ganhos para além da cidade. Por meio de livros e conexão discada, pesquisou sobre linguagem HTML.

Sem saber nada sobre compra de domínio ou hospedagem, o projeto inicial de construir um site nunca foi para o ar, mas foi o gatilho para aprender sobre programação. Logo, ela já estava ensinando pessoas ao redor sobre os princípios básicos e a lógica por trás de um computador.

Em uma palestra disponível no perfil do Mella TV, no Youtube, Betelhem Dessie conta que, aos 12 anos, já morando na capital etíope, Addis Abeba, conheceu o então primeiro ministro Meles Zenawi. Acabou tendo a oportunidade de atuar junto da INSA, uma agência governamental de segurança da informação, desenvolvendo habilidades para se tornar programadora de softwares. A partir disso, se dedicou ao que amava.

A programadora e empreendedora social afasta a ideia de ter sido apenas uma criança prodígio e defende que o processo de aprendizagem foi determinante para desenvolver habilidades. “Isso é sobre aprender. Meus pais me apoiaram muito e isso me empoderou e me fez chegar onde estou agora. Os pais aqui costumam ser muito protetores e controladores. Os meus, ao contrário, me deram liberdade de escolha. A comunidade em que eu estava envolvida também era composta por pessoas muito bem informadas”, ressaltou.

O poder da educação

Ainda que nunca tenha saído da Etiópia, toda a vivência de Betelhem Dessie a levou a ter uma visão global e a se envolver com projetos que a colocaram como uma das pioneiras em educação tecnológica. No começo da carreira, criou um software que simula virtualmente um laboratório de ciências e permite que estudantes façam experimentos sem equipamentos.

Entrou de vez no campo da educação ao se envolver no programa Girls Can Code, uma inciativa promovida pela embaixada dos EUA para ensinar garotas a codificar. Atualmente trabalha em dois projetos no iCog Labs, laboratório de inteligência artificial e robótica localizado em Adis Abeba, na Etiópia.

É CEO do iCog-Anyone Can Code, que foca em ensinar crianças e adolescentes, de 8 a 18 anos, as bases sobre código e robótica; além de atuar no Solve It, que funciona como uma plataforma para jovens criarem soluções tecnológicas inovadoras para suas comunidades com presença em 15 cidades da Etiópia. Ambos começaram como startups, mas há três anos já geram renda por meio de modelos de negócios sustentáveis e parcerias.

“O Anyone Can Code ensina os mais jovens as habilidade básicas para a resolução de problemas e o desenvolvimento do pensamento computacional. Assim, eles ficam aptos a lidar com as competências exigidas para o século XXI”, resume Betelhem em reportagem para o Great Big Story. E continua sobre o programa Solve It: “Minha motivação é acompanhar o que eles são capazes de desenvolver e tudo o que podem conquistar por meio deste programa. Ser uma inspiração para outras pessoas me ajuda a crescer e inovar ainda mais”.

Para atingir milhares de jovens com aulas sobre programação e pensamento computacional, os projetos oferecem formações após o horário das aulas em escolas públicas e privadas, além de promover workshops gratuitos e atividades em acampamentos de verão. Há, ainda, acesso por meio do escritório do iCog Labs, que mantém uma academia para ensinar as crianças.

Atualmente, Betelhem Dessie atua mais como gerente de projetos, mas ministra algumas aulas e também ajuda os jovens inventores de toda Etiópia envolvidos no Solve It a criarem desde simuladores de corrida até monitores de oxigênio de baixo custo para hospitais.

Tecnologia, diversidade e futuro

Mesmo com um dos mais baixos IDHs do mundo a Etiópia abriga uma crescente indústria tecnológica em Addis Abeba, que recebe o nome de Sheba Valley, em alusão ao Vale do Silício (Sillicon Valley, em inglês), região da Califórnia (EUA) que abriga startups e gigantes da tecnologia.

Detentora de algumas patentes e com experiência no assunto, Betelhem Dessie colidera esse movimento e acredita que é importante empoderar a nova geração, em especial as mulheres. “Quando eu era mais jovem, especialmente por ser mulher, me envolver com tecnologia fez eu me sentir independente. Liberdade é algo que quero proporcionar a outras pessoas”, afirma na palestra para o Mella TV.

Para os iniciantes, a educadora e empreendedora social sugere a linguagem simples do Scratch, mas ela também destaca que não é necessário querer se tornar um especialista em ciência da computação para estudar código. Habilidades como pensamento computacional ajudam em outras áreas, como a comunicação.

“Você aprende a escrever, mas não necessariamente se torna um escritor. A mesma coisa vale para o código. Ensinamos crianças a usarem ferramentas criadas para a resolução de problemas. Outra lição é que times são muito importantes e comunicação é ainda mais. É necessário se comunicar com o seu time, informar o que você precisa, ou o que você não precisa. Dou ao meu time a responsabilidade de saber o que eles precisam e, se não conseguem sozinhos, fazemos juntos. Não se faz nada sozinho”, ensina Betelhem Dessie.

Sobre planos futuros, ela espera que seus projetos sejam replicados e levados a mais lugares de seu país e do continente africano. “O mercado de tecnologia na Etiópia está começando a se empenhar, mas ainda não há muitas startups bem sucedidas. Para mudar isso, é preciso engajar a nova geração e despertar o interesse enquanto são crianças. É a isso que eu quero me dedicar”, finaliza.


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