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Especialistas no tema dão dicas de como recompor a aprendizagem considerando os diferentes níveis de conhecimento dos estudantes

#Educação#Educadores

Na imagem, vemos uma professora negra cumprimentando com as mãos um estudante negro, os dois estão sorrindo

Um dos principais desafios que professores de todo o país enfrentam diariamente em sala de aula é recompor a aprendizagem. A recomposição da aprendizagem ganhou um peso maior após a pandemia devido a fatores que prejudicaram o desenvolvimento de crianças e adolescentes no período do Ensino Remoto. As consequências foram percebidas no retorno das atividades presenciais, que ocorreu em 2022 na maior parte das escolas públicas.

Em abril desse mesmo ano, uma pesquisa realizada pela Nova Escola apontou que, de um total de 9 mil professores respondentes, 60% ainda não tinham iniciado o trabalho de recomposição. Os principais problemas enfrentados naquele momento eram comportamentais: alunos faltando muito, com dificuldade de fazer atividades em sala e aumentando a indisciplina.

“Voltamos a perguntar sobre este assunto em fevereiro de 2023. Tivemos 40 mil participantes na enquete e apenas 5% deles disseram que o trabalho de recomposição não começou ou não sabiam do que se tratava. 31% consideram que o problema foi resolvido em 2022 e 61% estão continuando ou reforçando as ações este ano”, explica Ana Ligia Scachetti, diretora-executiva da Nova Escola.

 

Os desafios para recompor a aprendizagem perdida 

Para recompor a aprendizagem o professor tem de olhar para as lacunas de aprendizagem dos anos anteriores. Mas sem deixar de buscar entender o que o estudante precisará ter em seu repertório para avançar nos anos seguintes.

“Um dos grandes desafios é a heterogeneidade das turmas, a variedade do nível de proficiência dos estudantes. E o que está mais testando os professores é a questão de esses alunos não estarem alfabetizados. Principalmente no Fundamental 2. Ouvimos muito ‘como ele vai entender uma situação-problema de matemática, se ele não consegue ler?’”, relata Eliane de Siqueira, coordenadora de programas educacionais na Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos. Ela também é autora do curso Defasagem de aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental: (re)planejar para avançar, da plataforma Escolas Conectadas.

Ana Ligia Scachetti acrescenta que nem sempre o professor tem formação ou materiais que apoiem a sua atuação para alunos em diferentes níveis de conhecimento em sala de aula. “Então, o ideal é que não seja uma questão apenas do professor. A gestão da escola também pode pensar, por exemplo, em maneiras de reorganizar as turmas em alguns momentos. E dar suporte para o professor conseguir agir, inclusive com mais professores e mais tempo dos alunos na escola”, opina.

Pilares da recomposição de aprendizagem 

Visto que turmas com estudantes que estão em diferentes níveis de aprendizagem são uma realidade nas escolas brasileiras, o desafio do professor é resgatar os estudantes que precisam recompor aprendizagens ao mesmo tempo em que tem de garantir que aqueles que avançaram continuem sendo estimulados.

Nesse sentido, Eliane indica que o primeiro pilar do processo de recompor a aprendizagem deve ser a realização do diagnóstico da turma. Com esse mapeamento, será possível entender quais são as lacunas e dar foco às que estão mais comprometidas.

“Depois de ter esse mapeamento consolidado, é feita a priorização curricular, que é a seleção das habilidades prioritárias para aquele ano. Algumas redes possuem um documento de priorização curricular. Outras usam como apoio os mapas de foco do Instituto Reúna e o plano de trabalho da Nova Escola. São materiais de referência para que o professor não tenha de fazer tudo sozinho”, explica.

O último pilar do trabalho de recomposição é o planejamento. De acordo com Eliane, ele precisa estar focado no desenvolvimento de habilidades e não no ensino. “Precisamos trazer a lógica do planejamento reverso, de olhar para a aprendizagem que tem de ser construída.  Depois, é possível pensar nas estratégias, nos arranjos didáticos, no acolhimento, que é um dos pilares que alicerçam a prática da recomposição de aprendizagem”, detalha.

Para colocar em prática

A fim de apoiar os professores em sala de aula, Eliane de Siqueira elencou algumas dicas fundamentais para que o processo de recompor a aprendizagem dos estudantes ocorra de maneira estratégica. Confira:

Planejar: É o primeiro passo. Afinal, o professor precisa ter um planejamento com foco no desenvolvimento de aprendizagem. Sem planejar, nada vai acontecer.

Conhecer muito bem a turma: Quando é feito o diagnóstico, identifica-se não só os desafios na turma, mas também estudantes muito sabidos em alguns assuntos, com habilidades cognitivas bem desenvolvidas. Então é preciso explorar essas habilidades e esse engajamento. O professor costuma pensar nos alunos que têm lacunas de aprendizagem, mas se esquece daqueles que já conseguiram avançar nessas construções.

Usar as metodologias ativas: Quando o estudante, de fato, é protagonista e aprende colocando a mão na massa, ele constrói aprendizagens muito significativas e leva isso para a vida. O uso dessas metodologias pode apoiar nas lacunas dos anos anteriores. Mas principalmente pensando nos anos seguintes. É um grande ganho no processo de recompor a aprendizagem, tanto para o professor quanto para o aluno.

Buscar evidências: Deve acontecer a todo momento, para entender os desafios que já foram superados e os que ainda precisam de intervenção. Assim, será possível garantir o direito de aprendizagem para todos.

Realizar formação continuada: Para que o professor consiga aplicar todas essas dicas, a formação continuada é indispensável. “O professor que hoje não busca ampliação de repertório, fica parado no tempo. E não vai avançar em relação a ele mesmo, além de não conseguir oferecer boas oportunidades de aprendizagem. Formação continuada em recomposição de aprendizagem é uma oportunidade de mobilizar reflexões sobre o tema aos professores por meio de exemplos e estratégias que fomentam a ação em sala de aula”, declara Eliane.

Recomposição de aprendizagem: dos desafios à prática em sala de aula
Recomposição de aprendizagem: dos desafios à prática em sala de aula