A tecnologia está abrindo espaço para uma educação verdadeiramente inclusiva. Ferramentas como reconhecimento de voz e tradução automática estão eliminando barreiras para alunos com deficiências auditivas ou visuais, permitindo que eles participem ativamente do processo de aprendizagem. Tecnologias digitais adaptativas têm desempenhado um papel essencial para tornar a educação mais personalizada e inclusiva, sobretudo no ensino público. Essas plataformas auxiliam educadores a compreenderem melhor as necessidades de cada aluno, a avaliar seu progresso e propor intervenções mais eficazes.
Na prática, instituições públicas, em diferentes realidades, já estão colhendo frutos ao incorporar essas ferramentas digitais na educação. É o caso da escola Major Manoel Fortunato, de Vitória de Santo Antão (PE), que encontrou na tecnologia uma aliada poderosa para tornar o aprendizado mais acessível.
A instituição tem 250 alunos que se dividem em dois turnos, em turmas do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental. A professora e coordenadora pedagógica Fabiana Maria da Silva conta que a escola “atende algumas comunidades de baixa renda e inclusive crianças vindas de uma área considerada muito difícil, fragilizada pela presença de criminosos”.
O contexto desfavorável, no entanto, não é um fator limitador para melhorar o dia a dia e a aprendizagem das crianças, principalmente entre os alunos que merecem atenção especial. “Nós temos na escola 16 alunos diagnosticados com transtorno do espectro autista (TEA) e um com deficiência intelectual”, explica a coordenadora. “Trabalhar com alunos com TEA exige adaptações, pois a neurodivergência pode gerar resistência às atividades rotineiras”, explica.
Atividades digitais para motivar e captar atenção dos estudantes
Desde 2022, a escola utiliza a plataforma Matemática ProFuturo, projeto que faz parte do ProFuturo, um programa da Fundação Telefônica Vivo e Fundação “la Caixa’ que contribui para o desenvolvimento de competências digitais de professores e estudantes, e para melhoria o aprendizado em matemática de alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental nas escolas públicas.
As aulas digitais acontecem às terças e quintas e “os alunos aguardam ansiosamente esses dias”, conta a professora. As atividades são feitas em tablets individuais e mediadas pelos professores. “Quando utilizamos a plataforma, os alunos têm um interesse maior, ficam motivados e engajados nas atividades”, descreve Fabiana.

Ela conta que a possibilidade de personalizar o aprendizado também ajuda muito, pois permite que os professores trabalhem os exercícios respeitando o tempo de aprendizado e os limites de cada estudante. “Identificamos a necessidade daquele aluno e ajustamos a atividade de acordo com ela. Eles têm ritmos muito diferentes.”
A personalização do ensino por meio da tecnologia trouxe resultados positivos no aprendizado dos alunos. De acordo com a professora e coordenadora pedagógica, com o método, eles conseguem aprender mais rápido do que com as aulas tradicionais, melhoraram as competências e o raciocínio lógico. Ela destaca ainda a “dinâmica diferente” propiciada pela gamificação. “É tudo mais rápido e mais concreto. O aluno está lá visualizando, ouvindo, ganhando as recompensas”, descreve.
A familiaridade dos alunos com a tecnologia contribui para o desenvolvimento da autonomia e reduz a ansiedade, especialmente entre crianças com TEA. “Eles já sabem como navegar na plataforma, o que diminui crises e reduz a ansiedade”, relata. Apesar de muitos apresentarem bom desempenho cognitivo, dificuldades de foco e concentração são comuns. “Com a aula digital, eles permanecem mais tempo engajados e se empenham para concluir as atividades. É muito gratificante ver isso.”
Experiências internacionais
Pertinho do Brasil, no Uruguai, a Plataforma Adaptativa de Matemática (PAM) tem como um dos seus objetivos centrais atender a diversidade de estudantes, inclusive aqueles com deficiência.
Com mais de 100 mil exercícios, quizzes e materiais de apoio, o sistema oferece relatórios detalhados para alunos e professores, identificando lacunas de conhecimento e sugerindo conteúdos específicos. A PAM vai além da adaptação individual, agrupando estudantes com necessidades similares para otimizar o ensino coletivo.
Outro bom exemplo nesse cenário é a Bookshare, biblioteca on-line mantida pelo Departamento de Educação Americano, que oferece milhares de livros para estudantes com baixa visão/cegueira, deficiência física e dificuldades de aprendizagem. Além de incentivar a leitura, o projeto ajuda no processo de aprendizagem, pois oferece diversos manuais, guias práticos e vários títulos de literatura em formato de audiolivros, em braile, ou com fontes aumentadas.
A UNESCO, durante o Dia Internacional da Aprendizagem Digital, destacou que a inclusão digital e o acesso universal a tecnologias são fundamentais para garantir o direito à educação no século XXI.
Além dessas soluções, avanços como inteligência artificial e análise de dados estão permitindo que instituições educacionais identifiquem desafios com antecedência e ofereçam um suporte mais ágil, sensível e personalizado. Para estudantes com deficiência, tecnologias assistivas — como legendas automáticas, leitores de tela— tornam-se cada vez mais comuns, ampliando as possibilidades de participação e acesso ao conhecimento.
À medida que tecnologias inclusivas se tornam parte do cotidiano escolar, a educação se aproxima do seu ideal mais justo: ser um direito universal, com equidade, diversidade e oportunidades reais de aprendizagem para todos.