Nota técnica "Educar na era da Inteligência Artifical: Caminhos para a BNCC Computação"

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19.09.2025
Tempo de leitura: 7 minutos

Pesquisa inédita apresenta caminhos para a implementação da BNCC Computação

Estudo revela que apenas 15% dos estados têm a Computação como componente obrigatório nos currículos e apresenta referências internacionais com recomendações para o Brasil

Imagem ilustra a matéria que exemplifica o termo diversidade na tecnologia

Na manhã do dia 11 de setembro, gestores públicos, especialistas e educadores de diversos estados do Brasil, assistiram à live de lançamento da pesquisa “Currículos de Computação: Levantamento e Recomendações”, realizada pela Fundação Telefônica Vivo e Movimento pela Base, com execução do Vozes da Educação. O estudo analisa como a Computação é abordada em diferentes países e traça um diagnóstico do cenário brasileiro.

O encontro colocou em pauta uma questão central para a educação pública: como transformar a BNCC Computação em realidade nas escolas, promovendo inovação e inclusão digital para todos os estudantes. A urgência da implementação também está relacionada ao acesso ao VAAR (Valor Aluno/Ano por Resultado), condicionalidade do Fundeb que considera a adequação curricular como critério para o repasse de recursos. Redes que não atualizarem seus currículos até o final de 2025 correm o risco de inabilitação nos anos seguintes.

A live contou com a participação de representantes das organizações responsáveis pelo estudo, que reforçaram a importância da mobilização das redes de ensino diante desse cenário. A apresentação foi conduzida por Alexandra Palhares, da Gerência de Mobilização Institucional da Fundação Telefônica Vivo. A abertura contou com falas institucionais de Catherine Rojas Merchan, gerente de parcerias e estudos da Fundação Telefônica Vivo, e de João Paulo Cêpa, gerente de articulação e advocacy do Movimento pela Base.

“Recentemente, o Conselho Nacional de Educação, divulgou a resolução que traz de forma explicita a orientação de que as redes de ensino precisam atualizar seus currículos para incorporar a BNCC Computação até dezembro deste ano”, destacou Catherine. “Esperamos que esta pesquisa, com dados concretos e boas referências, inspire gestores de todo país”.

João Paulo Cêpa reforçou o caráter coletivo da iniciativa: “Nosso desejo é fortalecer o compromisso de colocar a BNCC Computação em movimento, com foco na equidade, na prática e na aprendizagem real”. Ele também destacou os benefícios do ensino da tecnologia: “Quando a Computação é bem implementada, amplia o letramento, estimula a criatividade, o pensamento crítico e fortalece a aprendizagem em todas as áreas”.

Na sequência, Carolina Campos, fundadora e diretora-executiva do Vozes da Educação, apresentou os principais achados do estudo e as recomendações práticas. Mônica Nadja Caniçali, técnica educacional da Gerência de Currículo da Educação Básica da Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo (Sedu/ES), compartilhou a experiência do estado na construção do currículo, que incorpora às competências e habilidades da computação de forma transversal.

 


Computação ainda tem presença limitada nos currículos estaduais

O levantamento, realizado entre novembro e dezembro de 2024, mostra que o Brasil ainda está em estágio inicial na consolidação da Computação – especialmente quando comparado a oito sistemas internacionais analisados, como Austrália, Canadá (Ontário), Chile, Estados Unidos (Arkansas e Nevada), Nova Zelândia, Portugal e Reino Unido.

Nesses países, a Computação está presente nos currículos de duas formas: como componente obrigatório — caso da Austrália, Chile, Estados Unidos (Nevada e Arkansas), Portugal, Nova Zelândia e Reino Unido — ou integrada como competência transversal, modelo adotado em Ontário, Arkansas, Portugal e também na Austrália.

Apesar das diferenças de abordagem, todos investem em formação docente, produção de materiais didáticos e avaliações periódicas para garantir avanços concretos e equitativos.

No Brasil, apenas 4 estados – o equivalente a 15% – tinham, em 2024, a Computação como componente obrigatório na educação básica. Mesmo nesses casos, a abrangência era limitada. Na maioria dos estados, o tema aparece diluído em itinerários formativos ou como conteúdo transversal, sem diretrizes claras.

O desafio, portanto, é duplo: garantir a presença da Computação nos currículos e viabilizar sua implementação efetiva nas escolas.

 

Caminhos para implementar a BNCC Computação nas redes de ensino

A segunda parte da live foi dedicada à apresentação de caminhos práticos para a implementação da BNCC Computação. A palavra-chave foi “como”: como atualizar referenciais, como formar professores, como medir resultados e como garantir que tudo isso chegue à sala de aula.

“As redes sabem o que fazer. O difícil é o como fazer”, resumiu Carolina Campos. “Como criar uma avaliação voltada para a Computação? Como medir essa progressão?”.

O primeiro caminho trata da atualização dos currículos estaduais que é essencial para definir se a Computação será abordada: como componente específico, conteúdo transversal ou modelo híbrido. Um exemplo citado foi o estado de Arkansas, nos Estados Unidos, que estruturou seus conteúdos em objetos de conhecimento progressivos.

O segundo envolve a produção de materiais didáticos. O Chile, por exemplo, desenvolveu livros e guias interativos para professores. No Brasil é possível avançar com materiais impressos e plataformas digitais integradas que apoiem o trabalho docente.

O terceiro diz respeito à formação de professores, que deve ser contínua, específica e conectada à prática. A pesquisa recomenda ampliar a oferta de graduações e incluir Computação nos cursos de licenciatura e Pedagogia. Programas de residência, mentorias e comunidades de prática são estratégias eficazes, como demonstrado na Austrália.

O quarto caminho propõe a criação de instrumentos nacionais de avaliação, inspirados no modelo australiano. Rubricas por eixo e trilhas formativas sobre avaliação em Computação podem ajudar a orientar políticas públicas e identificar avanços com objetividade.

A implementação desses caminhos exige planejamento e monitoramento. O Reino Unido oferece um exemplo com seu framework gratuito de autoavaliação institucional, que mede avanços em currículo, liderança, formação docente, equidade, diversidade e impacto. “Não é necessário começar em todas as etapas de ensino”, reforçou Carolina Campos, sugerindo cronogramas escalonados, iniciando pelo Ensino Fundamental II e Médio, e avançando gradualmente para os anos iniciais.

Espírito Santo avança com modelo integrado de Computação

O Espírito Santo é hoje uma referência concreta e inspiradora na implementação da Computação de forma progressiva e transversal, acompanhando os estudantes desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

O currículo capixaba se organiza em três grandes eixos — Pensamento Computacional, Cultura Digital e Mundo Digital – e, ao longo das etapas, crianças e jovens desenvolvem habilidades que vão desde o reconhecimento de padrões e lógica até temas como inteligência artificial, segurança cibernética e análise crítica dos impactos sociais da tecnologia.

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a progressão é detalhada: os estudantes aprendem sobre organização de objetos, algoritmos, segurança digital, criação de conteúdos e senso crítico frente às informações online. A transversalidade é um princípio central: a Computação enriquece disciplinas como Matemática, Ciências, Línguas e Humanidades, contribuindo para uma formação integral, inclusiva e alinhada à justiça educacional.

Além do currículo inovador, a implementação no Espírito Santo se apoia em quatro pilares bem definidos: formação continuada dos professores, atualização das práticas pedagógicas, criação de materiais didáticos e digitais e monitoramento contínuo dos resultados.

“Nosso objetivo é que essas habilidades sejam vivas na vida dos nossos meninos e meninas. Saber lidar com a Computação é uma necessidade básica, como a Matemática, a escrita ou qualquer outra habilidade essencial”, afirmou Mônica.

Ao término da live, a principal mensagem que fica é de que ninguém fará nada sozinho. O Brasil está diante de desafios complexos, mas tem experiências, ideias e especialistas dispostos a construir as soluções coletivamente. “Essa construção é coletiva. Ninguém faz nada sozinho. Esse currículo está sendo feito a muitas mãos — entre secretaria, educadores, especialistas e parceiros”, concluiu.

 

Assista à live completa:

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