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11.02.2021
Tempo de leitura: 5 minutos

Como o currículo escolar pode incentivar a trajetória de mulheres e meninas na Ciência?

A escola pode representar um papel central para incentivar as mentes criativas por trás das soluções transformadoras da sociedade. Entenda!

A imagem mostra duas jovens, uma negra e uma branca em um laboratório. Ambas estão com jaleco branco e máscara de proteção e uma delas segura um tubo de ensaio.

Um levantamento feito pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) analisou a porcentagem de artigos assinados por mulheres no período entre 2014 e 2017 e apontou que 72% das publicações científicas foram escritas por mulheres. No entanto, elas representam apenas 14% do total de pesquisadores da Academia Brasileira de Ciências.

Uma das estratégias para reverter esse cenário é desmistificar o estigma construído historicamente de que meninas são melhores desempenhando papéis nas áreas relacionadas ao cuidado ou às humanidades.

“Quando foram confinadas a um serviço doméstico não remunerado, as mulheres também passaram a ser menos valorizadas e remuneradas no mercado de trabalho. Isso reforça uma sociedade que dita os padrões da nossa capacidade”, afirma Anna Canavarro Benite, Doutora e Mestre em Ciências e professora da Universidade Federal de Goiás (GO).

Para relembrar a sociedade do papel fundamental ocupado pelas mulheres, as mentes por trás das descobertas científicas transformadoras, a UNESCO e a ONU Mulheres estabeleceram, desde 2015, o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.

Mulheres na Ciência

Marie Curie foi a primeira pessoa no mundo a ganhar dois prêmios Nobel nas categorias Química e Física. Ada Lovelace foi a primeira a programar, Alice Ball estudou o tratamento para a lepra, e Rosalind Franklin descobriu a estrutura de dupla-hélice do DNA. Essa história continua a ser escrita por muitos nomes, embora nem sempre o papel das mulheres na Ciência seja destacado nos livros didáticos.

Em um contexto de pandemia global, o mundo voltou os olhos para a Ciência e enxergou mulheres na linha de frente do combate à COVID-19. Jaqueline Goes, junto com os colegas no Laboratório de Medicina da USP, sequenciou em dois dias o genoma do coronavírus após os primeiros casos na América Latina.  A técnica usada para decifrar a sequência do RNA do vírus  foi trazida ao Brasil pela professora e pesquisadora Ester Sabino.

Foi também no ano passado que o Prêmio Nobel de Ciência contemplou, pela primeira vez em 11 anos, três mulheres cientistas nas categorias Física e Química. A astrônoma norte-americana Andrea Ghez, a microbiologista francesa Emmanuelle Charpentier e a bioquímica norte-americana Jennifer Doudna foram as homenageadas da edição. Em 120 anos de premiação, apenas 3,68% dos vencedores foram mulheres.

Desconstrução de papéis a partir do currículo escolar 

Na opinião da doutora, essa mudança de paradigma começa na escola. É no ambiente escolar que os sujeitos se reúnem com crenças, valores e culturas diferentes da apresentada no núcleo familiar. Mas quando o currículo é formulado a partir de um sujeito único e para um determinado grupo, essas diversidades não são contempladas e acabam por homogeneizar o aprendizado.

Coordenadora do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão e do CIATA- Grupo de Estudos sobre a Descolonização do Currículo de Ciências, Anna desafia os padrões ditados. Mulher negra e cientista, ela projeta o ensino de Química voltado para as matrizes afro-brasileiras e da diáspora. Em 2016, surgiu a ideia de levar esse conhecimento para além da Universidade.

O movimento social Dandaras do Cerrado, a Universidade Federal de Goiás e a Escola Estadual Sólon do Amaral formaram uma gestão colaborativa para incentivar meninas na escolha de carreiras nas áreas de Ciência e Tecnologia. Localizada na periferia da cidade, a escola atende 1.500 estudantes e uma comunidade escolar que alcança 50 mil pessoas.

“O Investiga Menina foca em um recorte de gênero e raça, embora os meninos também participem. Nós vamos às salas de aulas uma vez por semana e trabalhamos componentes do currículo regular usando como base as descobertas de cientistas mulheres, negras, brasileiras e contemporâneas. A ideia é poder proporcionar um encontro presencial entre as cientistas e as estudantes”, explica a educadora.

Anna relembra o dia em que Sônia Guimarães, física e pesquisadora do ITA, foi à escola para discutir o conceito por trás dos átomos e explicou o processo usando celulares e controles remotos como exemplo, para se conectar à realidade delas.

“Assim a gente dá significado a essa Ciência e desperta a vontade de seguir carreiras científicas, pois estabelecemos uma relação de proximidade, visibilidade e representatividade”, conclui.

Confira alguns recursos disponíveis na plataforma Escola Digital para abordar a temática com os alunos.

Roteiro de estudos “Mulheres na Ciência”Os professores do Simplifica Educação, projeto da Universidade de Brasília, disponibilizaram um roteiro de estudos gratuito, voltado para os 8º anos do Ensino Fundamental. O objetivo é apresentar trajetórias de mulheres cientistas e refletir sobre o fato de essa perspectiva não estar contemplada pelo currículo regular.

Plano de Aula de Inglês “Mulheres na Ciência” – Provando que as perspectivas podem ser ressignificadas em qualquer disciplina, a Nova Escola também disponibilizou um plano de aula de inglês gratuito para refletir sobre o papel das mulheres na ciência. Voltado para o 9º ano do Fundamental, o roteiro trabalha ao mesmo tempo a reflexão e a capacidade de argumentação em outro idioma.

Vídeo “A dominação masculina e o papel da mulher na ciência”  – Esse Objeto Digital de Aprendizagem (ODA) em formato de vídeo é o tema da palestra da professora Márcia Barbosa durante o Ciclo de Conferências ILEA. Na primeira parte do programa, ela fala sobre as dificuldades, os mitos e a inclusão das mulheres na ciência.


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