Crédito das fotos: Divulgação
Por Danilo Mekari, do Portal Aprendiz, com Cidade Escola Aprendiz
Um grupo de crianças de várias idades fazia fila e esperava pacientemente o momento de descer ao segundo subsolo do Museu de Arte de São Paulo (MASP) para conferir de perto – e com o próprio corpo – a exposição Playgrounds 2016. Criada a partir da releitura de uma mostra com o mesmo nome, realizada por Nelson Leirner em 1969 (ano em que a atual sede do museu foi inaugurada na Avenida Paulista), a exposição conta com seis propostas de artistas e coletivos sobre o que é o espaço comum, o lúdico e o lazer.
À época da inauguração do espaço, a Playgrounds ocupou o vão livre do MASP com obras que propunham a interação do público, como uma caixa de areia e painéis com zíperes que abriam e fechavam. Na versão 2016 da exposição, o vão livre recebe duas obras: os cubos multi-coloridos do paquistanês Rasheed Araeen e a releitura de um carrossel que já ocupou o local, feita pela artista francesa Céline Condorelli.
De acordo com a curadora de arte moderna e contemporânea do MASP, Julieta González, a exposição faz parte de um movimento de resgate da concepção inicial da instituição, nos tempos em que era dirigido pelo casal Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi, assim como a recuperação dos cavaletes de vidro.
“De alguma maneira, Playgrounds tem uma sintonia com o espírito que Lina concebeu ao museu”, afirma a venezuelana, que hoje também dirige o Museo Jumex, na Cidade do México. “Em 1968, ela pensa o museu como espaço público e lúdico, onde a vida da rua se mistura com a vida do jogo e também da aprendizagem.”
Os cubos chamam a atenção de quem está passando pela movimentada avenida. Não é raro um pedestre desviar o caminho diário para observar a estrutura chamativa e até mesmo modifica-la. No subsolo, onde também estão expostas, as obras são dominadas por crianças, que giram no carrossel e montam, cada uma à sua maneira, “casinhas” de cubos.
Ali também está um caminho de madeira aonde o público desfila cuidadosamente, do artista carioca Ernesto Neto; um espaço de discussões sobre “brincar e pensar”, proposto pelo Grupo Contrafilé; e o trabalho Condutores, do Grupo Inteiro, que viu na estrutura interna de apoio dos ônibus urbanos uma possibilidade de refletir sobre a pedagogia, além de um trepa-trepa diferente e divertido para os menores.
Playgrounds 2016 é um projeto itinerante, realizado em São Paulo em conjunto com o SESC. De agosto a novembro de 2016, a exposição será montada no SESC Interlagos.
“No meu país, o ônibus é chamado de coletivo”, lembra González. “Tirada do contexto do veículo, essa estrutura vira um objeto de jogo, de aventura. O corpo pode explorar de outra maneira uma estrutura que é vivenciada no cotidiano.” Ela valoriza o papel ativo que os espectadores exercem durante a visita. “Permite ao público realizar a sua própria experiência estética. Vendo sob outros aspectos, isso também gera a possibilidade dele auto organizar a sua vida.”
De acordo com a curadoria, ao estabelecer espaços de diálogos e atividades no espaço expositivo, a mostra cumpre o papel de difundir a educação em todo o museu – não apenas no seu espaço físico, mas também no seu entorno. “O MASP foi construído entre um parque e uma paisagem, a vista da avenida 9 de Julho. É um espaço vazio que, na verdade, não tem nada de vazio: é cheio de vida pública”, afirma González. “Funciona como uma praça, onde praticamente não há nada construído, mas é o lugar onde acontece a negociação entre público e privado, coletivo e individual.”
Dentro da programação da Playgrounds 2016 está sendo organizado um seminário internacional que discutirá as posições dos museus em relação aos seus públicos, com foco em seus programas públicos e educativos. “O seminário em 2016 será uma oportunidade para centrar-se na relação dos museus com o espaço público e a cidade e as possibilidades de mediação por meio do jogo e da autonomia”, afirmam os curadores.
Previsto para os dias 15 e 16/4, o seminário é gratuito e as inscrições poderão ser feitas através do site do MASP.