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'Empoderamento Contábil' leva consultoria a profissionais autônomas para regularizarem seus negócios e seguirem o caminho do empreendedorismo

 

A arte em empreender de Ludmila Hastenreiter, de Duque de Caxias, na baixada fluminense, vem de família. “Sou filha, neta e bisneta de mulheres que trabalharam por conta própria, numa época em que não se ouvia falar sobre o assunto”, diz a empresária e contadora de 32 anos.

“Minha mãe, dona Tânia, trabalhou como empregada doméstica e auxiliar de serviços gerais para sustentar a família, mas foi com o empreendedorismo que ela pôde voltar a estudar e se formar como técnica em enfermagem.”

Em 2017, Ludmila colocou na área a startup ‘Empoderamento Contábil’?com o objetivo de ajudar sua comunidade, afro-empreendedoras e empreendedoras periféricas com os conhecimentos adquiridos durante seus quinze anos de estudos e experiência profissional.

“Durante doze anos, eu saía todos os dias da periferia, onde vivo até hoje com muito orgulho, para estudar em instituições renomadas e trabalhar em grandes empresas multinacionais de regiões nobres do Rio de Janeiro”, diz. Ela conta que cruzava com mulheres trabalhadoras com características como as da sua mãe. Eram manicures, diaristas, ambulantes, todas empreendedoras individuais. “Percebi a necessidade que elas tinham e têm de receber informações e treinamento de qualidade”, diz ela.

O projeto surgiu dessa observação, com o objetivo de oferecer consultorias em contabilidade e gestão financeira a partir de um plano de assinatura mensal com os valores a partir de 97 reais. Atualmente são 50 clientes cadastradas. Segundo Ludmila, o propósito é apresentar esses conhecimentos para todas as mulheres com linguagem descomplicada, simples e leve, com um preço que cabe no bolso delas e no caixa da empresa. “Quero também conscientizá-las sobre a importância das áreas administrativas para a continuidade dos micronegócios delas. Afinal, esses temas também são para mulheres, negras e da periferia”, enfatiza a empreendedora.

Cada aluna recebe consultoria humanizada, mesmo a distância, personalizada às necessidades da empresa e da rotina empreendedora. As consultorias são on-line com ferramentas digitais acessíveis, dessa forma, as clientes não precisam sair de casa para que os serviços aconteçam.

“Estamos buscando novas formas e parcerias para capacitar e impactar positivamente cada vez mais empreendedoras, já que existem milhares delas que não têm acesso à internet ou, quando têm, é limitado.”

Os caminhos para empreender

O tino para os negócios despertou em Ludmila de forma intuitiva, já nos primeiros contatos com gestão de negócios que teve, ao ajudar a sua mãe no controle de estoque de roupas que comprava para revender, e no preparo das cocadas, dos sorvetes e dos bombons que sua mãe também comercializava.

“Peguei toda essa experiência que convivia no dia a dia e fui atrás de ganhar o primeiro trocado. Já na adolescência, fazia e vendia bijuterias e era revendedora de revistas de cosméticos para poder comprar os itens de beleza que toda adolescente gostaria de ter”, afirma.

Apesar de colocar a mão na massa desde cedo, Ludimila sempre focou muito nos estudos: foi a primeira da família a se formar em uma faculdade. O gosto pela matemática a fez optar pelo curso de ciências contábeis.

Empreendedorismo social para mulheres

Quando decidiu pela empreitada, Ludmila enfrentou diferentes dificuldades. Tinha apenas como ferramentas de trabalho um notebook, as redes sociais e seu conhecimento. Ela conta que bateu de “porta em porta”: nos comércios populares, nos consultórios médicos, na sua comunidade religiosa, se apresentava e perguntava se poderia mostrar seu trabalho.

Foto feita antes da pandemia

“Foram muitos desafios e comentários desagradáveis. Sugeriram que eu deveria procurar recolocação no mercado de trabalho e não ser uma empreendedora, ou que seria impossível ser empresária trabalhando de casa”, conta. Hoje, diz ela, tem consciência da sua força e resiliência.

O início dos atendimentos do Empoderamento Contábil foi mesmo por meio das redes sociais, até que o projeto ganhasse corpo para se transformar em empresa com os cursos e as consultorias para micro e pequenas empreendedoras. O trabalho deu tão certo que Ludmila foi convidada a aperfeiçoar seus conhecimentos no programa de educação executiva em finanças corporativas na Ohio Universitynos Estados Unidos, em 2019, com bolsa integral.

A partir dessa especialização, Ludmila melhorou sua estrutura de negócios e entendeu as necessidades de seu público-alvo. “Somos nós, empreendedoras e afro-empreendedoras de periferias, que vivenciamos a luta de realizar nossa atividade profissional em meio a tanta escassez. Se depender de nós, a Empoderamento Contábil vai continuar impactando com conhecimento e florescendo vida inteligente nas periferias”, afirma.

A pandemia

Desde que as medidas de isolamento social começaram e o número de desempregados subiu no país, Ludmila entendeu que era hora de conscientizar a população das comunidades sobre a sobrevivência financeira dos micronegócios periféricos, liderados por mulheres, principalmente aqueles nas periferias do Rio de Janeiro e São Paulo.

“Ninguém preparou a gente para essa nova realidade e precisamos nos adaptar às medidas de isolamento social, continuar inspirando e fortalecendo a realidade de outras mulheres mesmo à distância.”

Diante dos problemas enfrentados, como a falta de saneamento básico, saúde, educação e mobilidade urbana, a contadora vê como principal desafio o esclarecimento sobre a importância de os pequenos negócios terem CNPJ e Alvará de Funcionamento.

“O primeiro pensamento ainda é o imposto que tem de ser pago”, diz. Seu maior desafio e missão é conscientizar as mulheres trabalhadoras dos benefícios de formalizar a atividade profissional, mesmo com a alta carga tributária do país. “Além disso, elas precisam entender como o planejamento financeiro é importante para diminuir as chances de um micronegócio fechar”, diz.

Para inspirar outras empreendedoras sobre qual caminho trilhar quando aparecerem as dificuldades, Ludmila dá a dica:

Busquem suas origens e ancestralidade, exercitem a sororidade, informem-se, revejam sua representatividade na sociedade e se questionem sobre suas missões na vida. Lembrem do provérbio africano: ‘Nenhuma condição humana é permanente’.”

Empreendedora cria startup de contabilidade para ajudar mulheres da periferia
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