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29.01.2019
Tempo de leitura: 6 minutos

“Fui premiado por escutar”, diz professor que inovou no ensino de artes

Jacson Matos é professor do Ensino Médio em São Paulo e conquistou o 19° Prêmio Arte na Escola Cidadã (Paec) por engajar os alunos na disciplina.

Na imagem, alunos realizam uma performance em um jardim, inspirados por artistas plásticos brasileiros.

Sexta-feira, aula de artes nas turmas do Ensino Médio da EE Prof. Fidelino de Figueiredo, em São Paulo. A expectativa é de poucos alunos presentes na escola, porque é o dia da semana em que se costuma registrar mais faltas. No entanto, a surpresa: a escola fica lotada de alunos ansiosos para aprender, vivenciar e experimentar música, pintura e demais performances artísticas.

O professor Jacson Matos foi um dos responsáveis pela transformação no ensino de artes na escola localizada na região central da capital, por meio do Projeto Conteúdos, uma iniciativa inovadora, que propõe reflexões poéticas sobre o aqui e o agora por meio da arte contemporânea. Com ela, o educador foi um dos vencedores do 19° Prêmio Arte na Escola Cidadã (Paec), concedido pelo Instituto Arte na Escola em 2018.

Em sua metodologia de ensino, canetas, quadros, apostilas e cadernos são colocados em segundo plano para que entrem em cena o corpo, argila, tecidos e vários outros materiais. O premiado Projeto Conteúdos sistematiza uma prática construída com a participação dos alunos desde 2015, segundo conta o professor.

“Há quatro anos, a escola foi ameaçada de fechar e os alunos ocuparam o prédio. Eles não deixavam que ninguém entrasse na escola, mas um dia precisei ir lá e vi que tudo estava tomado por produções artísticas. Olhando para isso, entendo que ganhei o prêmio pela minha escuta. Ouvi as expectativas e reivindicações dos alunos e acreditei na importância que o ensino de artes tem para os jovens”, revela o professor Jacson.

O mundo visto sob a arte contemporânea

Foram mais de mil trabalhos inscritos no 19° Prêmio Arte na Escola Cidadã que, em sua maioria, abordavam temas como cultura nordestina, memória, pertencimento, racismo, cultura negra e arte contemporânea.

Os projetos vencedores vão inspirar outros professores do país e marcam a importância do tema como uma forma de conhecimento do mundo.

“O ensino de artes, sua vivência e experimentação mudam de forma imediata a relação do jovem com o mundo, porque a arte é vida, é cultura e está presente no cotidiano dos jovens por meio da música, dos grafites, do teatro…”, considera o professor Jacson Matos.

O Instituto Arte na Escola (IAE) foi criado em 1989, com a premissa de qualificar, incentivar e reconhecer a importância do ensino de artes, por meio da formação continuada de professores da Educação Básica. Em 2018, o IAE criou o Movimento Arte na Escola para que seja garantida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a obrigatoriedade do ensino de artes durante o Ensino Médio.

As inspirações para o Projeto Conteúdos, e para todo o ano letivo, foram construídas em diálogo com os alunos desde o primeiro dia de aula. Neste momento, eles conversavam sobre o que foi abordado no ano anterior e quais eram as expectativas para aquele novo período. Foi a partir desse “diagnóstico” da turma que Lygia Clark, Helio Oiticica e Nise da Silveira foram determinados entre os nomes a serem discutidos durante as aulas na EE Prof. Fidelino de Figueiredo.

Para o professor Jacson, a arte contemporânea desperta muito interesse nos alunos porque é uma maneira de entender e viver o presente, levando em consideração as rápidas transformações políticas, econômicas e sociais pelas quais passa a sociedade do século XXI. E, também, por ser uma forma de expressão.

“O que antes era considerado erro, hoje em dia pode ser um acerto. O barulho virou música. A música que era profana – por exemplo, o samba – hoje é um gênero musical respeitado no mundo inteiro. O ensino de artes é uma forma de preparar o aluno para o que ainda não existe e para que ele solucione problemas no futuro. Para isso, é preciso ousadia, coragem para inovar em educação e para colocar o próprio aluno no centro do processo de aprendizagem”, considera Jacson.

Reconhecimento de um trabalho inovador

É a segunda vez que o professor Jacson Matos conquista o Prêmio Arte na Escola Cidadã. Cavalo Noia, um projeto desenvolvido com alunos da Educação de Jovens Adultos (EJA), foi o vencedor dessa categoria na 10ª edição da premiação.

O objetivo do trabalho era trazer os estudantes de volta à escola por meio de manifestações culturais que dialogassem a origem da maioria dos próprios alunos: as regiões Norte e Nordeste do Brasil. Para isso, assistiram vídeos, leram livros e conversaram sobre o cavalo-marinho, carnaval de rua e folguedos, por exemplo.

Durante o projeto, também realizaram apresentações de danças e de batuques e confeccionaram objetos típicos dessas manifestações culturais. O alcance do Cavalo Noia foi tão expressivo que seus integrantes foram convidados para encerrar a 28ª Bienal de Artes de São Paulo.

Com a sua segunda premiação, por conta do trabalho desenvolvido com alunos do Ensino Médio, o professor acredita ter sido reconhecido tanto por colegas de profissão, quanto pela sociedade. Isso faz, de forma geral, com que educadores confiem em si mesmos e continuem trilhando um caminho para um ensino cada vez mais qualificado.

“As premiações dão confiança e nos desafiam a fazer algo melhor. Dois momentos me emocionaram muito depois de receber o prêmio: o primeiro foi ver que muitos pais matricularam seus filhos na EE Prof. Fidelino de Figueiredo por causa da disciplina, e o segundo, foi quando o filho da Lygia Clark entrou em contato comigo, dizendo que, se a mãe dele fosse viva, ele tinha certeza que ela adoraria ser minha aluna. Será que tem recompensa maior para um arte-educador?”, declara Jacson.

Além da premiação inspirar outros educadores, escolas públicas da Bahia, Espírito Santo, Santa Catarina e São Paulo, que tiveram professores premiados no Paec, vão receber equipamentos como computadores, câmeras e livros especializados no ensino de artes para o acervo de suas bibliotecas.


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