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Realizar a inclusão produtiva de qualidade das juventudes no Brasil é urgente e exige oferta de melhores oportunidades de educação e de emprego

#Educação#EnsinoMédio#TecnologiasDigitais

Na imagem, três jovens estão reunidos observando algo na tela de um computador

 As juventudes no Brasil representam 24% da população. Embora sejam o principal grupo produtivo no país, sua inserção no mundo do trabalho se dá de forma precarizada e desigual, como indicam os dados apresentados no estudo O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras, lançado recentemente por Fundação Telefônica VivoItaú Educação e TrabalhoFundação Roberto MarinhoFundação Arymaz e GOYN SP. Foi realizado pelo Instituto Cíclica em parceria com o Instituto Veredas.

Desde 2014, a conjuntura econômica e o contexto de instabilidade política no Brasil estão piorando a relação dos jovens com o mundo do trabalho. A pandemia da Covid-19 agravou a situação, reduzindo oportunidades de emprego e estudo e aumentando as vulnerabilidades de grupos que já enfrentam obstáculos históricos, como é o caso de pessoas negras, indígenas e de baixa renda.

Duas situações são importantes para entender o atual cenário enfrentado pelas juventudes brasileiras em relação ao mercado de trabalho: o número significativo de jovens sem oportunidade de emprego e estudo, os chamados jovens sem-sem, e o desemprego, maior entre os jovens do que na média da população.

Vejamos a seguir o que compõe cada um desses cenários, bem como as principais recomendações do estudo para superar barreiras na inclusão produtiva das juventudes no Brasil.

Os jovens sem-sem

Os jovens sem-sem formam a população de 15 a 29 anos que está em situação de vulnerabilidade social e sem oportunidade de formação acadêmica e/ou emprego formal. Representam 27% das juventudes no Brasil e são atravessados por marcadores de raça, gênero e classe.

Dados levantados pelo estudo O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes no Brasil demonstram que a maior parte desse grupo é formada por pessoas de baixa renda, predominantemente mulheres negras. Além disso, essa condição incide mais sobre jovens mães, jovens não-brancos, jovens que moram no Nordeste, jovens da zona rural ou em residências com chefe de família com baixa escolaridade.

As principais barreiras elencadas para inclusão produtiva de qualidade desse grupo são responsabilidades domésticas precoces, maternidade precoce, baixa inclusão digital e insegurança física e alimentar.

Tarefa de toda a sociedade

Em comparação ao cenário internacional, o percentual de juventudes brasileiras sem oportunidade de estudo e trabalho é alto. O relatório Education at a glance 2022, da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), traz o Brasil em segundo lugar no ranking dos jovens “sem-sem”, com 36,9% considerando a faixa-etária de 18 a 24 anos. Dentre os 38 países-membros da OCDE, estamos atrás apenas da África do Sul (46,2%).

Embora essa condição seja transitória, o afastamento prolongado das juventudes no mercado de trabalho pode gerar o chamado “efeito cicatriz”, em que há impacto negativo nas trajetórias laborais ao longo de uma vida, a partir de experiências precárias no início da jornada produtiva.

Para Carla Chiamareli, gerente de gestão do conhecimento do Itaú Educação e Trabalho, a solução passa por uma mudança de cultura que envolve toda a sociedade. Começa na escola, com a ampliação da educação profissional e com mais cursos técnicos de qualidade. “Além disso, o currículo da escola deve ter foco em desenvolver competências socioemocionais, trazendo situações reais de aprendizagem”, diz.

Mas o mundo do trabalho também precisa mudar. “Não adianta só oferecer vagas, é preciso também apoiar o jovem em seu processo de desenvolvimento e se manter um diálogo constante com o sistema educativo, a nível médio e superior, e com políticas intersetoriais, que envolvam também cultura, desenvolvimento econômico, ciência e tecnologia. Todas essas pastas têm papel importante na vida do jovem”, explica Chiamareli.

O estudo O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras também destaca a necessidade de uma governança à altura do desafio da profissionalização das juventudes orientada para o futuro. Os autores do estudo destacam que é preciso mobilizar um amplo diálogo social entre agentes do ecossistema, envolvendo governos e órgãos públicos gestores, instituições de ensino, empresas privadas e locais de trabalho, além de organizações da sociedade civil, universidades e instituições de pesquisa.

Juventudes no Brasil: entre o desemprego e o desalento

O conjunto de impactos gerados pela pandemia afeta as juventudes brasileiras de forma desigual e em várias frentes. Em relação aos estudos, a edição de 2022 da pesquisa Juventudes e Pandemia indicou que metade dos estudantes de 15 a 29 anos relata que ficou para trás no aprendizado durante o período.

Da mesma forma, a situação no mercado de trabalho não vai bem. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), enquanto a média de desocupação da população em geral foi de 9,3% em 2022, ela chegou a 19,3% entre a faixa-etária de 18 a 24 anos. Nessa fase é esperado que o jovem tenha concluído a educação básica e faça a transição para o trabalho.

Outro destaque é o aumento significativo de jovens em desalento, ou seja, aqueles que gostariam de trabalhar, mas não procuram emprego por não acreditar que conseguirão. Essa taxa passou de 1,5%, em 2015, para 20,9%, em 2020. Entre os motivos citados pelo IBGE estão a falta de qualificação ou experiência profissional e a falta de trabalho na localidade onde moram.

De forma geral, os entraves que afetam a inserção produtiva das juventudes no mercado de trabalho se potencializaram nos últimos anos, com a pandemia da Covid-19, como pontuou o Secretário Nacional da Juventude, Ronald Luiz dos Santos:

“A pandemia mudou a realidade, especialmente no âmbito da tecnologia. Mas a digitalização não chega com qualidade nas periferias, nos assentamentos, nas comunidades ribeirinhas e no campo. São essas as juventudes mais vulneráveis, sobretudo em sua qualificação, aprendizagem e acesso à informação. Com menos acesso a possibilidades, menor qualidade para integrar o mercado de trabalho”, disse, durante participação no webinário de lançamento da pesquisa O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras.

A potência revolucionária das juventudes brasileiras

Quem também participou do webinário de lançamento do estudo O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras foi Marcos Barão, presidente do Conselho Nacional da Juventude do Brasil (CONJUVE). Ele fez questão de pontuar que temos a maior geração de jovens da história do país, com cerca de um quarto da população formada por pessoas de 14 a 29 anos. No estudo, dados elaborados pelo Instituto Cíclica, com base no IBGE (2022), mostram que 24,7% da população brasileira é composta por essa faixa etária. No total, são 52,3 milhões de pessoas, sendo que 85% residem em áreas urbanas e 60% se autodeclaram pretos e pardos.

Esses números representam uma janela de oportunidade para concretizar o bônus demográfico do país, com um alto contingente da população apta a trabalhar. No entanto, a publicação Jovens: Projeções Populacionais, citada pelo estudo, mostra que até 2060, os jovens representarão apenas 15% da população brasileira. As projeções apontam para o desafio futuro de sustentar uma sociedade com menos pessoas produtivas e maior exigência de produtividade, com trabalhadores mais qualificados.

“Se a gente não fizer os investimentos certos agora, o que resta amanhã é dramático”, disse, enfatizando que a previsão para 2060 é que um a cada quatro brasileiros tenha 65 anos ou mais. “A gente precisa tomar uma decisão agora que é se vamos envelhecer antes de prosperar ou se vamos olhar para esse ativo maravilhoso e sem precedentes em nossa história como potencialidade revolucionária. Todos os momentos de luta e resistência na história do Brasil foram protagonizados por jovens”, disse Barão.

Assim, um olhar atento aos dados revelam os nós estruturais da sociedade brasileira e permitem avançar com consistência em políticas públicas. “Uma política pública bem feita, bem articulada e implementada chega lá na ponta, onde mais ninguém consegue. É por isso que lutamos pelo protagonismo jovem na construção de um Plano Nacional para as Juventudes. Estamos falando de política pública de longo prazo, que entenda a complexidade dos desafios experimentados pelas juventudes no Brasil e que olhe para educação, segurança pública, violência, mobilidade urbana e todas as questões que afetam as juventudes em diferentes dimensões de sua vida”, reforçou o presidente do CONJUVE.

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Faça o download do estudo completo aqui

Juventudes no Brasil e os desafios da inserção no mundo do trabalho
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