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14.07.2016
Tempo de leitura: 6 minutos

Um computador na parede, uma janela de aprendizagem para crianças

O educador indiano Sugata Mitra escreve sobre como nasceu o projeto Hole in The Wall, que mostra como as crianças têm capacidade autônoma de aprender.

O educador indiano Sugata Mitra escreve sobre como nasceu o projeto Hole in The Wall, que mostra como as crianças têm capacidade autônoma de aprender.

No começo de 1999, alguns colegas e eu colocamos um computador na abertura de uma parede próxima ao nosso escritório, em Kalkaji, Nova Déli (Índia). A área estava localizada em uma comunidade expandida, com pessoas pobres e desesperadas lutando para sobreviver. A tela do computador era virada para a rua e estava disponível para qualquer transeunte. O computador tinha internet e um número de programas que podiam ser acessados, mas não fornecemos nenhuma instrução para seu uso.

O que aconteceu em seguida nos surpreendeu. Crianças vinham correndo e se grudavam como cola ao computador. Elas não conseguiam se conter e começaram a clicar e explorar, aprendendo a usar aquele objeto estranho. Algumas horas depois, um colega visivelmente chocado disse que as crianças estavam, na verdade, navegando pela internet.

Nós deixamos o computador lá, disponível para qualquer pessoa que por ele passasse, e depois de seis meses as crianças da vizinhança haviam aprendido o que o mouse podia fazer, conseguiam abrir e fechar programas, e estavam usando a internet para baixar jogos, música e vídeos. Perguntamos como tinham aprendido essas sofisticadas manobras, e todas as vezes respondiam que tinham aprendido sozinhas.

Curiosamente, elas descreviam o computador em seus próprios termos, cunhando expressões únicas para indicar o que viam na tela. Por exemplo, suas palavras para o símbolo da ampulheta que aparece quando o programa está “pensando” era “damru”, o nome de um pequeno tambor de madeira em formato semelhante que é símbolo de Shiva, deus Hindu. O cursor do mouse era chamado de “sui”, palavra hindi para agulha, ou “teer”, que significa flecha.

Nós repetimos o experimento em outras duas localidades: na cidade de Shivpuri em Madhya Pradesh (ali, Digvijay Singh, um político proeminente, estava interessado em nossa pesquisa), e em um vilarejo chamado Madantusi, em Uttar Pradesh. Ambos os experimentos mostraram o mesmo resultado que o primeiro: as crianças aprendiam a usar o computador sem nenhuma assistência. A linguagem não importava, tampouco a educação.

Na década seguinte nós fizemos uma pesquisa extensiva sobre aprendizado autodidata, em muitos lugares e culturas diferentes. Toda vez, as crianças eram capazes de desenvolver um aprendizado profundo ensinando a si próprias. Decidi chamar esse método instrutivo de Minimally Invasive Education (Educação Minimamente Invasiva). O resto do mundo continua a nos chamar de Hole in the Wall (Buraco na Parede).

Certas observações comuns emergiram de nosso experimento, sugerindo que os processos abaixo ocorrem quando crianças se auto instruem no uso de computadores.

  1. Descobertas tendem a acontecer de um de dois modos: quando uma criança em um grupo já sabe algo sobre computadores, ele ou ela exibe suas habilidades para outras. Ou, enquanto outras assistem, uma criança explora de maneira randômica o ambiente gráfico até que uma descoberta acidental aconteça. Por exemplo, essa criança pode descobrir que o cursor muda para o formato de uma mão em certos lugares da tela.
  2. Várias crianças repetem a descoberta ao perguntar a primeira que as deixar tentar.
  3. Quando, no passo 2, uma ou mais crianças cometem mais descobertas, acidentais ou incidentais.
  4. Todas as crianças repetem as descobertas e, no processo, fazem mais descobertas. Elas logo começam a criar um vocabulário para descrever as experiências.
  5. O vocabulário as encoraja a perceber generalizações, como: “Quando você clica com o cursor em formato de mão, ele muda para o formato de ampulheta por um tempo e então uma nova página aparece”.
  6. Ao fazer algo, elas memorizam processos inteiros, como abrir um programa de pintar e recuperar um desenho salvo. Sempre que uma criança encontra um caminho mais curto, ela ensina a outra. Elas discutem, fazem conferências miúdas, seus próprios cronogramas e planos de pesquisa. É importante não subestimá-las.
  7. O grupo se divide entre “os que sabem” e “os que não sabem”, tanto quanto pode se dividir em “tem” e “não tem”, com relação aos objetos. Entretanto, uma criança que sabe irá dividir seu conhecimento em troca de amizade ou reciprocidade de informação, ao contrário da dona de coisas físicas, que pode usar a força para conseguir o que não possuí. Quando você “pega” informação, o dona não a “perde”.
  8. Um nível é alcançado quando não acontecem novas descobertas e a criança se ocupa em praticar o que ela já aprendeu. Nesse ponto, a intervenção é necessária para plantar uma nova semente de descoberta, como, “Você sabia que computadores podem tocar música? Aqui, deixa eu mostrar”. Nos computadores do projeto Hole in the Wall, essas intervenções mínimas acontecem acidentalmente quando adultos passam ou por descobertas ocasionais. Normalmente, uma espiral de descobertas acontece em seguida e o ciclo de instrução começa novamente.

Quando trabalhando em grupos, crianças não precisam ser “ensinadas” a usar computadores. Eles podem ensinar a elas mesmas. Sua habilidade de fazê-lo parece independente do contexto educacional, nível de literacia, status econômico ou social, etnia e lugar de origem, gênero, localização geográfica ou inteligência.

Usando um único computador com o projeto Hole in the Wall, crianças aprendem a fazer a maioria ou todas essas em aproximadamente três meses: Funções básicas de navegação do computador, como clicar, arrastar, abrir, fechar, redimensionar, minimizar e selecionar o menu; desenhar e pintar figuras no computador; carregar e salvar arquivos, fazer downloads e jogar jogos; executar softwares de educação e outros programas; tocar música e vídeos, e ver fotografias e desenhos; navegar pela internet, se uma conexão de banda larga está avaliável; configurar contas de email; receber e mandar email; usar redes sociais, como chats (AIM, Google Chat, etc), skype e Facebook, solucionar problemas pequenos, como consertar alto-falantes que não estavam tocando bem; fazer download.

Professores locais e observadores de campo notaram que crianças demonstram melhora em desenvolvimento e performance em exames da escola, particularmente em assuntos conectados com: habilidade de informática; vocabulário de inglês; concentração; problemas de atenção e trabalhar cooperativamente e se autorregular.

Eu acredito que Educação Minimamente Invasiva deveria ser parte importante do currículo de qualquer escola.

*Artigo originalmente publicado no site Edutopia


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