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O educador Francisco Mendes compartilha sua experiência e mostra que a Ciência de Dados na escola pública já é uma realidade em alguns estados, e pode ser para todos. Confira!

#CiênciadeDados#Educação#Educadores

Imagem mostra três jovens em uma sala de aula, utilizando computadores. Em primeiro plano, é possível ver um jovem rapaz, de cabelo cacheado, e ao seu lado uma moça, de cabelo comprido.

A Ciência de Dados está em todo lugar. Nos aplicativos que usamos, nas compras que fazemos, e no entretenimento que consumimos. Por tal razão, o incentivo à Ciência de Dados na escola não poderia ser diferente. Afinal, saber interpretar esse grande volume de informações é uma competência fundamental para formar qualquer cidadão.

Nesse sentido, o Fórum Econômico Mundial (FEM) alertou, em 2019, para a necessidade urgente do letramento digital para que as pessoas ingressem, atuem e se mantenham profissionalmente ativas.

“Temos a falsa impressão de que a educação em dados está restrita às áreas de tecnologia. Mas, não há como desconsiderar os impactos sociais, culturais e econômicos na vida de todos nós. Existe espaço para a Ciência de Dados nas escolas”, analisa Francisco Mendes, educador e Head de Tecnologia no Instituto Ânima.

Além da relevância do tema, entender a melhor maneira de utilizar atividades disruptivas, entre elas as metodologias ativas, com o uso de tecnologias digitais pode ajudar os profissionais da educação a otimizar o processo de ensino-aprendizagem.

Assim, os educadores têm a chance de preparar os estudantes para as demandas de uma sociedade digital. Bem como, ganham recursos para desenhar estratégias pedagógicas personalizadas.

Para reforçar que a educação em dados  está cada vez mais próxima da realidade dos educadores, conversamos com o Prof. Francisco Mendes sobre a sua experiência, aliando pedagogia e tecnologia em escolas públicas. Confira!

Saiba mais sobre Francisco A. C. Mendes 

Doutor em Educação pela USP, Mestre em Tecnologia Educacional pela UNESP e Físico de formação pela USP.  Ao longo de sua trajetória na educação, atuou nos mais diversos tipos de instituições da Educação Básica e do Ensino Superior: públicas, privadas, técnicas, bilíngues e pré-vestibulares. Atualmente, está como Professor Pesquisador e coordenador de projetos que envolvem a área educacional de inovação, currículo, carreiras, projetos multidisciplinares e tecnologia educacional. Além disso, é Head de Tecnologia no Instituto Ânima.

1.  Por que você considera importante que educadores e estudantes tenham acesso à educação em dados? 

Para o teórico alemão Albert Einstein, três bombas seriam responsáveis por marcar o século XX:  a bomba atômica, a demográfica e a das telecomunicações. Sendo assim, como físico de formação, costumo dizer que as comunicações no século XXI são relativistas. Uma das premissas da Teoria da Relatividade proposta por Einstein afirma que ao percorrer a velocidade da luz, nós conseguiremos observar a contração do espaço e a consequente dilatação do tempo. Ou seja, a internet trouxe avanços tecnológicos que transformam diariamente as dinâmicas sociais, culturais, econômicas e ambientais em uma velocidade incalculável. Nos conectamos com rapidez (à velocidade das ondas eletromagnéticas) do mundo todo, encurtando muito as distâncias que nos separam delas.

Como resultado, barreiras geográficas foram quebradas e a maneira de armazenar conhecimento também mudou. Consequentemente, lidamos com um grande volume de dados que está disponível, porém desorganizado.

Portanto, a habilidade de analisar, interpretar e gerir essas informações pode ajudar a tomar decisões mais conscientes. Na educação não é diferente. Tanto professores quanto estudantes fazem parte de uma mesma sociedade digital. Atualmente, ser letrado em dados é uma questão de cidadania.

 

2. Apesar de vivermos em uma sociedade digital em constante transformação, muitas vezes essa realidade parece distante das escolas públicas. O que falta para os educadores aplicarem a Ciência de Dados na escola? 

Antes de mais nada, vale ressaltar que a tecnologia é apenas um instrumento de mediação do processo de ensino-aprendizagem. É verdade que ter acesso a recursos digitais pode otimizar o tempo, o espaço e as estratégias pedagógicas.

Entretanto, precisamos primeiro estar dispostos a inovar na forma de ensinar e aprender. Romper com hierarquias, colocar o estudante no centro do seu próprio aprendizado atuando com a sua agência e sua responsabilidade, e apostar em atividades disruptivas. Com isso, já estaremos dando um passo importante em direção a uma cultura digital.

Além disso, hoje contamos com uma série de ferramentas gratuitas que podem servir como aliadas para despertar o interesse e a criatividade dos estudantes. Ainda que a infraestrutura não seja a ideal, o importante é reconhecer a necessidade de continuar aprendendo ao longo da vida.

 

3. Quais são os benefícios da educação em dados para os educadores? 

Assim como os serviços de streaming aprendem com os padrões de consumo dos usuários, os educadores também podem usar os fundamentos da Ciência de Dados para analisar as preferências cognitivas dos estudantes e criar um ensino personalizado e adaptativo.

Por meio dos dados, é possível acompanhar em tempo real se a abordagem pedagógica utilizada em determinada atividade está gerando os resultados esperados. A Ciência de Dados pode fazer com que os educadores tenham mais tempo para focar no que realmente importa: o vínculo com os estudantes.

A partir do momento que os jovens têm a oportunidade de aprender sob o olhar atento de um mediador que o enxerga de maneira integral, isso também potencializa o processo de construção de conhecimento.

4. E para os estudantes? Quais competências e habilidades são trabalhadas a partir da Ciência de Dados na escola? 

Ao contrário do que reforça o senso comum, os estudantes da nova geração não são nativos digitais. Eles nasceram em uma era digital e conectada pela internet, mas isso não significa que saibam medir o impacto dessas tecnologias em suas relações sociais.

Portanto, o letramento e a apropriação digital entram como conjuntos de competências que permitem aos jovens produzirem e consumirem tecnologias de maneira crítica, responsável e construtiva.

Assim, eles serão capazes de resolver problemas complexos através da coleta, seleção, análise e interpretação de dados. Com ou sem a ajuda de máquinas. É por isso que a Ciência de Dados se relaciona mais com uma estrutura de pensamento do que com recursos tecnológicos em si.

No caso dos estudantes, ela também contribui para a construção das suas identidades enquanto cidadãos. Independentemente da profissão que escolher. Dessa forma, os jovens não apenas estarão prontos para atender a uma demanda de mercado. Mas também estarão aptos para construir soluções de forma autônoma, crítica e criativa.

5. O itinerário de formação técnica em Ciência de Dados, elaborado pela Fundação Telefônica Vivo em parceria com o CIEB, foi pensado para trabalhar a tecnologia de maneira transversal. O que isso significa e por que é importante? 

A transversalidade significa vincular uma competência a diversas áreas do conhecimento. Por exemplo, a Sociologia e a Matemática trabalham juntas para que um dado tenha aplicação na sociedade. A mesma lógica é válida quando vamos aplicar Ciência de Dados na escola.

Ao relacionar a educação em dados com os demais componentes curriculares e áreas do conhecimento, educadores e estudantes conseguem enxergar mais elementos nessa análise. Por que estou consultando este dado e não outro? Como e por quem ele foi coletado?

Tais perguntas ajudam a ampliar o leque de interações e interpretações possíveis sobre um mesmo dado. Portanto, trabalhar a tecnologia de maneira transversal é importante para gerar sentido e significado para o aprendizado.

É o que o curso de formação técnica e profissional se propõe a fazer ao trabalhar a Ciência de Dados como um itinerário formativo.

Trilha de Formação Docente em Ciência de Dados 

A Fundação Telefônica Vivo também oferece apoio pedagógico e técnico aos professores que ministram aulas na formação técnica e profissional em Ciência de Dados. Assim, a Trilha de Formação Docente foi pensada para desenvolver habilidades específicas para trabalhar com dados. Assim, ao concluir a formação em cada um dos três eixos, os professores receberão uma certificação do Instituto Ânima, parceiro-executor responsável pela capacitação.

Leia mais: Formação técnica e profissional em Ciência de Dados chega às escolas de Mato Grosso do Sul e Santa Catarina

6. Como a trilha de formação docente, certificada pelo Instituto Ânima, pode ajudar os educadores a se sentirem confortáveis para ensinar Ciência de Dados na escola? 

Para criar a trilha de formação docente em Ciência de Dados, consideramos duas frentes importantes: a pedagógica e a técnica. Primeiramente, queríamos que os educadores entendessem que são sujeitos ativos de suma importância nessa interlocução. Tudo começa pela pedagogia.

Nesse sentido, a trilha propõe atividades disruptivas com metodologias ativas, atividades inovadoras e o debate sobre o estudante como protagonista ativo. Logo depois, nos dedicamos a apresentar aspectos técnicos como gestão e análise de dados, linguagens de programação e um olhar para o big data.

Por ser um tema muito específico, nos preocupamos em garantir que os educadores tivessem a oportunidade de aprofundar os conhecimentos, além de entender de que forma podem trabalhar Ciência de Dados na escola.

Outro aspecto importante foi incluirmos em cada um dos três eixos da formação, Gestão de Dados, Big Data e Análise de Dados, uma proposta de projeto que oferecesse aos jovens a chance de aplicar os conhecimentos para resolver problemas reais do entorno.

Dessa forma, os estudantes levam bem mais do que um título técnico. A ideia é que eles se formem como cidadãos e possam retornar o que aprenderam para a comunidade da qual fazem parte.

 

7. Afinal, quem pode ensinar Ciência de Dados nas escolas? E por onde os educadores podem começar? 

Embora a Trilha de Formação Docente esteja sendo aplicada, neste momento, apenas para os professores responsáveis pelo itinerário formativo, qualquer educador pode trazer a Ciência de Dados para a escola.

Basta começar refletindo sobre como a transformação digital impactou as descobertas em cada área de conhecimento. A partir daí, é possível traçar paralelos e aprofundar o debate sobre a tecnologia de maneira transversal.

Do mesmo modo, é possível fazer o exercício inverso e pensar em como as tecnologias podem ajudar a explicar melhor os componentes curriculares básicos. Assim, os recursos tecnológicos passam a ser aliados da aprendizagem.

Por último, deixo uma reflexão para os educadores: manter os jovens alheios à tecnologia é incentivar a exclusão social. Mas oferecer a oportunidade de aprender sobre ela é educar para a cidadania.

Ciência de Dados na escola: por que é importante e por onde começar?
Ciência de Dados na escola: por que é importante e por onde começar?