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26.05.2017
Tempo de leitura: 6 minutos

2º Fórum de Inovação Educativa discute formação de educadores

Evento feito em parceria pela Fundação Telefônica Vivo, Folha de S. Paulo debateu o papel do educador e como tornar a carreira mais atrativa

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O 2º Fórum de Inovação Educativa da Folha de S. Paulo, em parceria com a Fundação Telefônica Vivo teve como tema a formação do professor. Nos dias 24 e 25 de maio, a Unibes Cultural, em São Paulo, foi tomada por gestores, educadores e acadêmicos para discutir o desafio que é formar professores em uma realidade de complexas mudanças.

Para o presidente da Fundação Telefônica Vivo, Americo Mattar, aceitar a ressignificação do papel de educador frente ao protagonismo juvenil é parte importante do debate. “Vivemos uma realidade líquida, em que aparatos como um tablet podem revolucionar o que se aprende dentro da sala de aula. Se 5% dos alunos saem do Ensino Médio sabendo matemática, temos que entender o que está errado, e a formação dos educadores faz parte desse debate”.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – documento que propõe diretrizes pedagógicas para a construção dos currículos do ensino infantil, fundamental e médio – foi o tema da primeira mesa enquanto oportunidade de reformulação do papel do educador. Parafraseando o filósofo grego Platão, a diretora da Escola Brasileira dos Professores, Guiomar Namo de Mello, falou sobre a necessidade de que a formação do professor acompanhe as competências do século XXI. “A educação é um ato de relacionamento. Para que um educador consiga ir além dos conteúdos, ensinando competências não só cognitivas, mas também socioemocionais, ele deve aprender nas mesmas condições inovadoras em que queremos que ensine”, diz.

Para ilustrar a potência contida em processos de aprendizagem que primam pelo enlace do território e adoção de metodologia de projeto, o reitor Naomar Almeida foi convidado para falar sobre a Universidade Federal do Sul da Bahia. A mais nova universidade federal brasileira, a UFSB foi criada com a prerrogativa de inovação: Quando um universitário presta vestibular, ele não escolhe o curso; isso acontece após sua entrada na universidade. Além de aprendizagem por projeto, a universidade tem parceria com o ensino médio de escolas da região, emprestando seu conhecimento em troca que os educadores continuem sua formação na universidade.

Cláudia Costin, ex-secretária de Educação do Rio de Janeiro, viajou por países modelos em educação como a Finlândia, e concorda. Segundo ela, para que o educador consiga se formar, é necessário ter amparo das instituições onde estuda e trabalha. É mais importante escutar o que acontece dentro do cotidiano do que necessariamente uma formação continuada descolada da realidade. “Menos mestrados, mais processos colaborativos discutindo problemas concretos da sala de aula. Mais salas de professores onde possam dialogar e trocar com seus pares”, afirma. Teresa Cozetti, diretora de currículo do MEC, ressaltou que a BNCC não vai solucionar todos os problemas, mas que é um passo importante rumo à inovação educativa no país.

A segunda mesa do primeiro dia dialogou sobre quem educa o educador. Mario Ghio, vice-presidente do Kroton, grupo de universidades privadas, frisou a importância dessas instituições na formação do professor hoje. Além dele, Paula Carolei foi convidada a contar da experiência do curso de graduação Design Educacional, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde educadores são formados por uma metodologia de projetos. “O bonito de usarmos a tecnologia é que ela evidencia os processos, e na educação, é muito importante que estejam expostos e disponíveis para outras pessoas”, diz.

O segundo dia de evento começou com uma mesa de experiências particulares de regiões diferentes do Brasil. Enquanto Cybele Amado contou como o Instituto Chapada de Educação funciona no interior baiano, entendendo que “a formação continuada do educador tem que acontecer na escola”, beneficiando a comunidade onde se especializa, o recifense Luciano Meira, co-fundador do Porto Digital, aposta no conceito do educador enquanto um empreendedor dentro da sala aula, e ela própria como uma startup. “Isso deve acontecer em um conceito de hiperlocalidade, isto é, o entorno onde o educador e escola estão gera um conhecimento autoral local”, afirma Luciano.

Trabalhando no Conselho Nacional de Educação, César Callegari contribuiu com o debate citando a necessidade de incluir uma nova variável na carreira do professor, para além do tempo de trabalho e títulos. “Temos que considerar o trabalho colaborativo de autoria desse educador, valorizar o que produz quando escreve um livro, faz um vídeo, inventa uma nova maneira de lecionar. Se os estudantes se desenvolvem quando criam, os professores também precisam de espaços de desenvolvimento de sua criatividade”. A secretária de educação de Manaus, Katia Schweickardt contou sobre a experiência na rede manauara – a maior do Brasil, com 492 escolas – que vem apostando na valorização dos saberes tradicionais e na inserção da tecnologia.

A segunda mesa, que concluiu o debate, investigou quem ainda deseja ser professor. Mediada pela fundadora e diretora do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, a primeira fala foi da professora Luciana Caparro, da Escola Amorim Lima, escola paulista modelo em educação inovadora e uma das seis escolas apoiadas pela Fundação Telefônica Vivo no Programa Inova Escola. “Eu sabia que queria ser professora muito cedo, sou parte dos 2% de jovens que se vê enquanto educador e não desistiu da carreira. Quis ser professora para transmitir esperança a outras pessoas”, relata.

E ainda que seja uma carreira vocacional, os participantes da mesa reforçaram o discurso de que o magistério não é um sacerdócio e nem pátio de super-heróis: a profissão tem que ser valorizada e reconhecida como qualquer outra. “O professor não é culpado pela não aprendizagem do aluno, mas é responsável. Por isso, sua carreira tem a ver com uma formação inicial sólida e um salário condizente”, defendeu José Carlos Rothen, educador e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos.

Juçara Vieira, ex-presidente Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação, concluiu que a profissão é sim, gratificante, mas que não é possível ignorar a necessidade de se pensar em resoluções sistêmicas, em que governos federais, estaduais e municipais se articulem em conjunto, principalmente quando se fala em educação básica.

“O salário dos professores pagou a massificação do projeto de educação no Brasil, como a ampliação do número de alunos por sala de aula. Precisamos denunciar que estamos fazendo propostas de tornar uma carreira atrativa em um cenário de 20 anos de congelamento em investimento de educação”, conclui a ex-professora.


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