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04.03.2021
Tempo de leitura: 7 minutos

Professora alia robótica à sustentabilidade em projeto que utiliza lixo eletrônico

Professora de Matemática e Robótica Educacional, Keila Cattete, criou um projeto social em Belém (PA) que capacita adolescentes e transforma materiais recicláveis e lixo eletrônico em protótipos de robôs.

Professora Keila Cattete posa para foto com um dos seus alunos

Keila Cattete nasceu em Belém do Pará, mas conta que sua origem vem do quilombo no município de Tracuateua (PA), no nordeste paraense. Licenciada em Matemática pela Universidade da Amazônia (UNAMA), é hoje professora de Matemática e Robótica Educacional em uma escola particular de Belém, onde trabalha também com o tema da sustentabilidade.

Como a instituição é focada na inclusão de alunos em desenvolvimento atípico, Keila também é especialista do AEE (Atendimento Educacional Especializado), trabalhando com autismo, Síndrome de Down e Asperger.

Aos sábados, a paraense ministra uma iniciativa solidária de robótica no Parque dos Igarapés, um parque ambiental da capital. Participam deste projeto seis adolescentes da periferia da cidade. “Eu sempre quis fazer um trabalho social e levar robótica para os alunos da periferia”, conta Cattete.

Keila foi a primeira campeã da Amazônia no Torneio Brasil de Robótica. “Nós aliamos a robótica à necessidade do Quilombo Abacatal. Lá eles tinham necessidade de colher o açaí e a acerola, e nós montamos o protótipo açaí e o protótipo acerola”, explica a professora.

Robótica e sustentabilidade 

A professora Keila posa para foto ao lado de um robô construído com lixo eletrônico

O projeto de Robótica Educacional foi idealizado por Keila a convite da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Professora Dilma Cattete. Todos os sábados, os seis estudantes da escola se encontravam, das 8h às 10h, no Parque dos Igarapés. O parque cedia o espaço e também a alimentação dos alunos – que são apelidados de “cientistas”. Atualmente, os encontros estão acontecendo de forma remota.

“Sempre que falamos de robótica, temos que falar de sustentabilidade”, aponta Keila. No projeto, os alunos trabalham com materiais recicláveis e lixo eletrônico para transformá-los em protótipos de robótica. Recebem doações de mouse, HD, placa mãe ou teclados. “Tudo o que dá pra gente usar nós separamos. Este é o pensamento de baixo custo, pensar de forma sustentável”, acredita.

A professora afirma que o robô precisa existir por algum motivo, e por isso a equipe sempre busca criá-los adaptados às necessidades da região. “Os estudantes precisam se questionar qual função terá o protótipo. Eles podem pensar qual dificuldade tem o ribeirinho. Tudo isso vai aguçando o aluno a ter mais ideias para construir um robô. É desta forma que o aluno se transforma no protagonista do processo de aprendizagem”.

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No ano passado, Cattete fez o curso Eu, robô! da plataforma Escolas Conectadas. A formação explora conceitos e práticas de robótica sustentável e de baixo custo, evidenciando sua aplicabilidade nos processos educacionais. A iniciativa faz parte do programa global ProFuturo, criado pela Fundação Telefônica e pela Fundação Bancária “la Caixa”.

“Eu amei o curso! Foi direcionado para tudo aquilo o que a gente precisa saber, explica exatamente como montar um robô de forma sustentável. Me ajudou bastante porque eles usam a metodologia híbrida e ativa. Superou muito as minhas expectativas. Na minha área é muito difícil ter apoio e incentivo e agora o meu currículo está atualizado!”, comemora a educadora.

Para além da Matemática 

Mais do que o ensino de Matemática, os estudantes aprendem sobre Física, estudando velocidade, temperatura, clima, e sobre Geografia, para saber o ambiente em que o robô irá se locomover. Eles também desenvolvem o raciocínio lógico, espírito de equipe e o senso de liderança. “A robótica é interdisciplinar. Ela precisa de todas as disciplinas para chegar em um denominador comum que é o protótipo”, afirma Keila.

A professora conta que o retorno que os pais dão é sempre muito positivo. “Alguns alunos chegaram no projeto chateados com o lugar em que eles moram, sem perspectiva de vida, sem foco e sem direcionamento. No início, a gente trabalha o emocional do aluno, porque não vai adiantar ele entrar lá com essas angústias. O aluno fica mais calmo, mais centrado. A Robótica Educacional aguça no aluno o sentimento de valorização e de que ele pode alcançar voos maiores. Isso é o que me estimulou e me estimula até hoje”, afirma.

Para além do projeto, Keila busca ajudar os estudantes com os seus planos futuros, encaminhando vagas de jovem aprendiz ou indicando um curso profissionalizante. “A educação move o mundo. Ela muda uma história, assim como mudou a minha”, afirma.

 

O início de tudo 

O projeto no Parque dos Igarapés é a realização do que Keila já vinha desenvolvendo alguns anos antes. Em 2013, a professora havia se mudado para o nordeste do Estado para lecionar Matemática em uma escola rural no município de Tracuateua. “Dava para ver uma grande diferença entre os estudantes da capital e aqueles do interior. Em Belém, os estudantes tinham celulares, tablets, computadores e legos. Naquela época, em Tracuateua, não tinha nem internet”, relembra.

Querendo inserir a tecnologia sustentável no aprendizado dos estudantes, Keila passou a desenvolver um projeto que transformava lixo eletrônico em protótipos de robótica. Ela chegou a convidar amigos da cidade de Belém, há quatro horas do município, para apoiá-la na construção do projeto e das primeiras aulas. Estes levavam materiais para os estudantes, como kits de lego para serem usados em conjunto com o lixo eletrônico.
“Os estudantes começaram a ver o lixo eletrônico com outros olhos. Olhavam para um mouse antigo e viam que aquilo poderia virar um robozinho”, conta Keila. Depois de alguns meses, os alunos apresentaram o projeto e os protótipos construídos à comunidade.

“O município gostou muito! Foi muito significativo para os alunos. O mais importante foi que aquelas crianças do interior tiveram contato com o conhecimento de robótica educacional”, lembra orgulhosa da experiência.

Três anos depois, convidada a montar um laboratório de robótica no Colégio Paulista ela retornou à Belém. Até hoje ela integra o corpo docente da escola.

Professora Keila posa para foto atrás de uma mesa com diversos materiais utilizados em sua aula de robótica sustentável

 

Aulas remotas durante a pandemia 

Por conta da pandemia e as medidas de isolamento social, os trabalhos do projeto no Parque dos Igarapés estão acontecendo através de aulas on-line ou vídeos gravados. “Os alunos não pararam. Eles vão participar agora de um torneio de drone. Estamos montando um drone caseiro, cada um na sua casa, com os materiais que a gente conseguiu”. A equipe sempre almeja participar de competições regionais, nacionais e internacionais de robótica.

Como muitos não têm celular, ou internet, se eles não conseguem ver os vídeos enviados, a professora dá um jeito de ligar ou ir até a residência deles.

Mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, Keila não cogita desistir. “O lema do nosso projeto é gerar um campeão para a vida. Mesmo que as coisas estejam difíceis, eu lembro que eles já são campeões”, conclui.


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