Sem dúvida, o período de volta às aulas não será o mesmo para todos os estudantes. Durante a pandemia, cerca de 5 milhões de crianças e jovens foram privados do direito à educação. Segundo especialistas, uma das prioridades para reverter este cenário é conduzir ações de busca ativa escolar em 2022.
“Na prática, isso significa ir atrás de cada criança e adolescente que não conseguiu se manter aprendendo. Inclusive os que já estavam fora da escola antes da pandemia”, explica Júlia Ribeiro, Oficial do Programa de Educação do UNICEF no Brasil.
Em outras palavras, o objetivo é reunir dados sobre quem são, onde estão e quais são as necessidades dos estudantes que abandonaram a escola. Dessa forma, cada rede de ensino terá condições de adaptar soluções que façam sentido para o território.
Sendo assim, o primeiro passo é reconhecer quais são as causas que levam a uma possível evasão escolar. Após fazer essa avaliação diagnóstica, as instituições podem propor ações conjuntas com setores integrados. Por exemplo, unidades de saúde e centros de assistência social.
“Afinal, a escola ocupa papel central na rede de proteção de crianças e adolescentes. Para além da aprendizagem, as instituições são responsáveis por oferecer apoio psicossocial, reconhecer e denunciar casos de violência”, complementa Júlia, que também é especialista em Equidade, Qualidade e Liderança pela Escola.
Qual é a diferença entre abandono e evasão escolar?
• Abandono escolar: Acontece quando o estudante não conclui um determinado ano letivo.
• Evasão escolar: É uma possível consequência do abandono escolar. Ou seja, quando o estudante decide não retornar à escola no ano letivo seguinte.
Quais são as causas da evasão escolar no Brasil?
Decerto, o combate à evasão escolar avançava no Brasil antes da pandemia. De acordo com estudo feito pelo UNICEF, em parceria com o CENPEC Educação, o percentual de meninas e meninos de 4 a 17 anos fora da escola caiu de 3,9% para 2,7% no período entre 2016 e 2019.
Por outro lado, o cenário de exclusão escolar reforçava as desigualdades sociais. Só para ilustrar, mais de 90% dos estudantes que estavam fora da escola viviam em famílias com renda per capita de até 1 salário mínimo. Sob o mesmo ponto de vista, jovens negros, pardos e indígenas representavam em torno de 70% desse total.
“Ao passo que o processo de abandono é carregado de outras marcas sociais. Por isso, só trazer o estudante de volta para a escola não garante que ele permanecerá nela”, argumenta Luiz Miguel Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Ainda segundo dados do levantamento, 13,9% da população entre os 6 e 17 anos estava fora da escola em 2020. Isto é, os mesmos indicadores de duas décadas atrás.
“Nesse sentido, a busca ativa escolar se torna estratégica para frear o retrocesso da educação nos próximos anos. Visto que ela leva em consideração a individualidade no coletivo”, complementa Luiz Miguel Garcia.
Características de uma busca escolar efetiva:
• Identificar as causas de abandono e exclusão escolar
• Reconhecer a escola como parte da rede de proteção de crianças e adolescentes
• Estabelecer um regime de colaboração com os agentes que atuam no território
Atenção para estas possíveis causas de evasão:
• Insegurança alimentar
• Desemprego na família
• Episódios de racismo e bullying
• Trabalho Infantil
• Doenças e transtornos psicossomáticos
• Gravidez na adolescência
Busca Ativa Escolar: um trabalho colaborativo
A fim de promover um regime de colaboração, O UNICEF e a Undime criaram o programa Busca Ativa Escolar. Trata-se de uma metodologia social combinada a uma ferramenta tecnológica. Ambas estão disponíveis gratuitamente para estados e municípios.
Assim, representantes de diferentes áreas podem coletar, reunir e analisar dados sobre as crianças e jovens em risco de evasão escolar. Isso é feito por meio de uma plataforma digital, que pode ser acessada a partir de qualquer dispositivo eletrônico.
Dessa forma, é possível planejar e implementar políticas públicas que respondam às necessidades do território.
“Antes de mais nada, a equidade é sobre adotar estratégias diferenciadas para garantir direitos iguais a todos. Então, fazer a busca ativa de maneira integrada permite que os jovens possam ser livres para fazer as próprias escolhas”, complementa Luiz Miguel Garcia.
Como resultado desse esforço colaborativo, cerca de 3 mil municípios e 20 estados brasileiros já aderiram ao processo. Desde 2016, quando a iniciativa foi lançada, mais de 80 mil crianças e adolescentes foram rematriculados em todo o país.
“Certamente, a educação contribui para a garantia de todos os demais direitos. De modo geral, a ideia do programa Busca Ativa Escolar é contribuir para que a escola siga sendo um espaço de acolhimento, possibilidades de desenvolvimento e de novos projetos de vida”, finaliza Júlia Ribeiro.
3 exemplos de busca ativa escolar
Saiba mais sobre os exemplos de projetos de busca ativa escolar:
Bora pra escola?
Com a finalidade de aproveitar o período de matrícula escolar, a campanha Bora pra Escola! foi lançada em novembro de 2021 para chamar os estudante de volta às aulas. Desde então, mais de 30 organizações sociais de todo o país se mobilizaram em prol dessa causa. A partir das redes sociais, a coalização divulga mensagens direcionadas aos estudantes, educadores e familiares. Do mesmo modo, todos os agentes da comunidade escolar estão convidados para participar da campanha de comunicação. Saiba mais!