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26.02.2021
Tempo de leitura: 6 minutos

Vencedor do ‘Nobel da Educação’ alia tecnologia ao direito de meninas à educação

Ranjitsinh Disale foi o primeiro educador indiano a conquistar o Global Teacher Prize e dividiu o prêmio entre os demais finalistas. Saiba como ele transformou a perspectiva de sua comunidade em relação à educação

Imagem mostra o educador Ranjitsinh Disale sorrindo para a câmera. Ele usa camisa branca, é moreno e tem cabelos escuros.

Na noite de 3 de dezembro de 2020, o Museu de História Natural de Londres, na Inglaterra, foi palco da cerimônia de premiação do Global Teacher Prize, considerado o Nobel da Educação. As expectativas estavam voltadas para os finalistas da edição, que se destacaram por seus trabalhos transformadores. O nome no envelope trazia o nome de Ranjitsinh Disale, professor indiano que utilizou a tecnologia para priorizar a educação de meninas em sua comunidade.

 

Além do reconhecimento, o vencedor recebe um valor de US$ 1 milhão para dar continuidade ao projeto. Mesmo tendo sido escolhido entre 12 mil indicados em mais de 140 países, Disale mostrou que a premiação, promovida pela Varkey Foundation e pela Unesco, não se trata de uma competição. Ele decidiu dividir metade do valor do prêmio (US$ 500 mil) com os demais finalistas, que incluem a educadora brasileira Doani Bertan.

 

“Ao compartilhar o prêmio, posso ajudar milhões de estudantes em nove países diferentes e ampliar as vozes dos meus colegas educadores, que devem ser respeitados e reconhecidos por suas inovações tanto quanto eu. No final, isso resultará em crescimento para todos nós” comenta Ranjitsinh Disale em entrevista para o canal norte-americano Crux.

Tornando a educação uma prioridade

Maharashtra é um dos vinte e oito estados da Índia, o segundo mais populoso e o terceiro mais extenso do país. É também onde está localizada a vila de Paritewadi, no distrito de Solapur. Os cerca de 1.000 habitantes que vivem na aldeia tiram o sustento de atividades ligadas à agricultura e é comum as crianças faltarem à escola para ajudar no cultivo e nas tarefas domésticas. Este foi o contexto que motivou a trajetória transformadora do professor Disale.

“A educação não é uma prioridade em Paritewadi. Os meninos ajudam seus pais na terra e a escolarização das meninas não é vista como essencial”, conta Ranjit em vídeo para a Varkey Foundation.

Quando deixou a faculdade de engenharia de software para se tornar professor, entendeu que o seu papel como educador era também o de enfrentar desafios para construir mudanças. Em 2009, começou a lecionar em uma escola pública chamada Zila Parishad e não demorou a perceber que a falta de infraestrutura e a baixa frequência escolar influenciavam diretamente no projeto de vida das crianças. Outra questão era o idioma. O currículo não foi desenhado para ser ensinado em Kannada, língua materna da aldeia. Isso dificultava a compreensão e a aprendizagem dos estudantes.

Para tornar a educação uma prioridade, teria de se aproximar da comunidade. Ao longo dos anos, aprendeu a falar Kannada, começou a interagir com os pais e familiares das crianças, a participar dos eventos da aldeia e a mapear suas necessidades. Ao mesmo tempo, buscava ressaltar o papel da escola no desenvolvimento das crianças, sobretudo no das meninas.

Liberando o acesso à igualdade

A segunda estratégia de Disale foi repensar suas práticas dentro da sala de aula, com objetivo de torná-la mais significativa e atraente. Traduziu os materiais didáticos para o idioma das crianças, inserindo QR Codes nos cadernos impressos. O código redireciona os estudantes a uma página repleta de áudios, videoaulas, histórias, poemas e até mesmo tarefas extras para ampliar as possibilidades de engajamento. Ao trabalhar as competências digitais nos estudantes, possibilitou um melhor preparo da turma para a pandemia que atingiu duramente o estado de Maharashtra.

Embora a maior parte dos estudantes acesse os conteúdos a partir de telefones celulares compartilhados, esse diferencial permitiu que Ranjit continuasse a desenvolver atividades e atualizar o link dos QR Codes para a nova realidade.

“A tecnologia me permite preencher a lacuna que existe entre estudantes que vivem em áreas rurais e aqueles que moram em grandes cidades”, disse o educador em um vídeo da Varkey Foundation.

O que pode parecer um movimento simples gerou resultados surpreendentes do ponto de vista da igualdade de gênero. Atualmente, a frequência escolar das meninas aumentou em 100%, e o índice de casamentos infantis, prática culturalmente aceita em muitas partes da Índia, caiu a zero na aldeia onde Disale leciona.

“Permitir que as meninas façam parte da educação envolve mais do que apenas garantir a presença delas em sala de aula, mas também contribui para que elas se sintam seguras na comunidade e na sociedade”, acrescenta.

Assistir Vídeo

O reconhecimento pela mudança

Antes de conquistar o “Nobel da Educação”, a iniciativa de Ranjitsinh ganhou reconhecimento em outras oportunidades. No ano de 2016, os estudantes da Zilla Parishad se destacaram por alcançar todos os objetivos de aprendizagem antes mesmo do ano letivo chegar ao fim. Isso fez com que a escola fosse considerada a Melhor do Distrito naquele ano. No mesmo período, o educador foi nomeado Pesquisador Inovador do Ano.

Em 2018, ele recebeu o prêmio Inovador do Ano pela National Foundation. Para o presidente-executivo da Microsoft, Disale também não passou despercebido. Satya Nadella, conterrâneo do educador, citou o trabalho do educador em seu livro “Aperte o F5” (Benvirá), dedicado a debater a transformação tecnológica pela qual o mundo vem passando.

Preocupado em estabelecer uma cultura de paz e contribuir para alcançar o 16º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS 16), o educador criou um grupo com estudantes para debater sobre os discursos de ódio e as guerras, bem como estratégias para combatê-las através da cooperação global. Chamados de “Soldados da Paz”, os estudantes têm a missão de construir comunidades mais igualitárias e sustentáveis.

As inscrições para o Global Teacher Prize 2021 já estão abertas e vão até o dia 30 de abril. Este ano a premiação também inaugura uma nova categoria, promovida em parceria com a instituição Chegg.org – a Global Student Prize. Dedicada a reconhecer estudantes que impactam positivamente suas comunidades, a nova modalidade reforça o protagonismo jovem.



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