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Articulando educação antirracista e tecnologia, Nelza Jaqueline Franco está engajando estudantes na recuperação da memória histórica de personalidades negras e indígenas da cidade

#Educação#EducaçãoAntirracista#TecnologiasDigitais

A imagem mostra a professora Nelza Jaqueline Franco com dois de seus alunos do 4º ano da EMEF Afonso Guerreiro Lima, em Porto Alegre. Ela está sentada na ponta da esquerda, o aluno que está no meio está mexendo no teclado e o aluno da ponta direita está perto do mouse. Os três olham atentamente para a tela do computador com o jogo Scratch.

A falta de materiais didáticos com as temáticas sobre negras e indígenas foi ponto de partida para a professora de informática Nelza Jaqueline Franco, de 43 anos, criar um plano de aula que articula educação antirracista e programação. Com seus alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Afonso Guerreiro Lima, em Porto Alegre (RS), ela desenvolveu a atividade “Memórias e personalidades negras nos jogos digitais”.

Os estudantes utilizaram pesquisa e programação para criar um jogo de labirinto em Scratch. A proposta era resgatar o legado de personalidades negras e indígenas que deixaram sua marca na cultura local e na história do nosso país.

A primeira versão do plano de aula foi realizada em 2016, com três turmas do 4º ano do fundamental. Em duas de suas turmas, Nelza orientou os estudantes a pesquisarem a biografia de personalidades negras de Porto Alegre.

Entre as personalidades negras e indígenas levantadas estavam o poeta Oliveira Silveira, um dos líderes da campanha pelo reconhecimento do Dia da Consciência Negra, Lupicínio Rodrigues, um dos principais compositores brasileiros de marchinhas de carnaval, e Deise Nunes, a primeira mulher negra eleita Miss Brasil, em 1986.

Um dos grupos de alunos já tinha aulas de programação em Scratch com a professora há algum tempo. Sendo assim, ficou responsável por desenvolver um jogo digital para valorizar a memória e o legado das personalidades pesquisadas.

“Eles trabalharam com lógica e pensamento computacional para criar um jogo de labirinto. O jogador tem acesso às biografias escritas pelos alunos conforme anda com o cursor pela tela e esbarra em obstáculos. Foi um estudo compartilhado que gerou não só um jogo divertido, mas também um banco de dados sobre lideranças e acontecimentos das populações negras locais”, destaca Nelza.

Memória de personalidades negras e indígenas da comunidade

Neste ano, a professora vai ampliar a atividade, incluindo a memória e a história de povos marginalizados que dão as características multiculturais do bairro onde a escola está localizada, Lomba do Pinheiro. A região integra a periferia de Porto Alegre e é ocupada majoritariamente por pessoas negras, além de indígenas das etnias Guarani, Charrua e Kaingang.

Em suas aulas, a professora Nelza Jaqueline Franco alia educação antirracista, pesquisa e programação

 “A ideia é continuar usando a tecnologia para desenvolver objetos digitais de aprendizagem com a temática negra e indígena. Vamos fazer entrevistas com lideranças comunitárias, visita a museus do bairro, conversas com professores de História de outras escolas do entorno. O material produzido será trabalhado em animações e jogos digitais de programação Scratch, além de podcasts e uma espécie de ‘YouTubeteca’ para alguns dos vídeos gravados pelos próprios alunos durante a investigação”, explica a professora.

Outra novidade é que o projeto será realizado no contraturno das aulas, destinado a alunos do 4º ao 9º ano interessados em aprofundar os estudos sobre história e cultura negras e indígenas locais, além das personalidades. Dessa forma, a atividade deve complementar os conteúdos curriculares trabalhados nas disciplinas regulares. O projeto acontecerá ao longo de todo o ano e será conduzido pelo coletivo É Tempo de Aquilombar, criado por Nelza em 2019.

Educação antirracista como política municipal

Na EMEF Afonso Guerreiro Lima, Nelza Franco é uma das professoras responsáveis por auxiliar os demais professores a incluir inovação e educação antirracista em seus planejamentos pedagógicos. Embora já atuasse dessa forma desde que chegou na escola, ela agora tem respaldo municipal.

Em 2023, a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (SMED-POA) começou a cumprir resolução do Conselho Municipal de Educação que determinou a construção de espaços voltados para a aplicação das Leis 10.639 e 11.645, que tornaram obrigatório o ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena nos currículos escolares.

“Faz parte da resolução a implantação dos espaços educativos afro-brasileiros e indígenas (EABIs) em todas as escolas do município. Mas essa construção vem de muita luta do movimento negro. Nós, professores antirracistas, ficamos muito felizes de conquistar esse espaço”, diz Nelza, enfatizando que  a escola é um micro espaço de nossa sociedade, que é marcada pelo racismo estrutural. “Por isso, a escola tem a obrigação de atuar pela promoção da equidade racial e combate ao racismo.”

Antirracismo e tecnologia

O plano de aula Memórias e personalidades negras nos jogos digitais, criado por Nelza, integra o repositório de práticas pedagógicas e tecnologias no combate ao racismo e discriminação recém-lançado pelo projeto Tecla, iniciativa da organização social Ação Educativa para articulação de políticas das tecnologias digitais de informação e comunicação.

O repositório apresenta planos de aulas de combate ao racismo criados por diferentes educadores, nos mais diversos territórios e contextos do Brasil. Vale conferir o material para inspirar novas ações pedagógicas.

Professora usa programação para valorizar personalidades negras e indígenas de Porto Alegre
Professora usa programação para valorizar personalidades negras e indígenas de Porto Alegre