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Confira os destaques do segundo dia do enlighED 2022, que debateu os desafios e oportunidades para os jovens no desenvolvimento de competências digitais e para o mercado de trabalho digital

#Educação#Educadores#Listas

Imagem mostra o palco do enlighted com três palestrantes no palco. Elas são mulheres negras, estão sentadas, uma delas está com o microfone falando ao público

Diante de um mundo em constante transformação, a capacidade de se reinventar é essencial. No segundo dia do enlightED Brasil, realizado em 17 de novembro, a questão orientadora da conferência global foi: Como preparar as juventudes para um mercado de trabalho digital?

“A estimativa é de que 2 milhões de postos de trabalho sejam extintos devido à automação. Sendo assim, a resposta a este cenário está em uma educação focada no desenvolvimento de competências para a resolução colaborativa e criativa de problemas. Afinal, há algo que os robôs não podem replicar: a inteligência humana”, apontou Claudia Costin, fundadora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas, na abertura do evento.

Os especialistas Lucia Dellagnelo, diretora-presidenta do Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB), Silvana Bahia, coordenadora do Preta Lab, Camila Achutti, fundadora e CEO da Mastertech, e Olavo Nogueira Filho, diretor-executivo do Todos pela Educação, se uniram para compor este debate em conversas sobre equidade no ensino e na criação de tecnologias, cidadania digital, competências para os profissionais do futuro e o mercado de trabalho digital.

Confira os destaques do segundo dia do enlightED Brasil:

 

1- Ser professor em tempos de mudança 

O Brasil foi um dos países que assumiu um compromisso com o quarto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Agenda 2030. Isso significa assegurar uma educação equitativa, inclusiva e de qualidade para todos e capaz de preparar os jovens para um mercado de trabalho digital.

Por outro lado, mesmo antes da pandemia, o território brasileiro estava em 2º lugar no ranking de desigualdade educacional entre os 79 países avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Somado a isso, o mercado de trabalho segue sofrendo profundas transformações com o avanço das tecnologias digitais.

“Ainda que sem planejamento, a pandemia trouxe aceleração da inclusão digital na educação. Contudo, se não conseguirmos fazer com que a escola ofereça o ensino de competências mais sofisticadas, vamos ter um brutal crescimento das desigualdades sociais em nosso país”, alertou Claudia Costin, durante a abertura do segundo dia do enlightED Brasil.

Para evitar este cenário, a especialista defende que a formação continuada de educadores e a própria organização do ambiente escolar precisa incluir o desenvolvimento de competências digitais, socioemocionais e cognitivas de forma contínua.

“Ser professor em tempos de mudança é entender que não faz mais sentido apenas oferecer aulas expositivas. Isso os estudantes encontram no YouTube. De modo que o maior diferencial de um profissional da educação no século XXI é o pensamento crítico, colaborativo e criativo. É o que vai garantir aprendizagem de qualidade para todos”, afirmou a especialista em políticas educacionais.

Além disso, Claudia ressalta a importância de políticas públicas que valorizem a profissão docente e que ajudem a implementar um currículo interdisciplinar. “Daqui para frente, aprender a aprender será de suma importância. Uma vez que tanto estudantes quanto professores terão de se reinventar profissionalmente a todo momento”, concluiu.

2- Ensinar na diversidade 

Nesse contexto, a flexibilidade também se torna uma habilidade importante para garantir a equidade na educação. Assim, a partir da tecnologia e da criação de vínculos, o professor Laercio Candido encontrou maneiras de trabalhar com a diversidade de seus estudantes.

“Em 17 anos de carreira docente, trabalhei com pessoas em contextos muito diversos. Da zona rural até a favela carioca. Também da escola pública até a particular. E da Educação Básica ao Ensino Superior. Isso me fez perceber que a maneira de acessar o conhecimento e a tecnologia é diferente para cada um desses públicos”, refletiu Laercio durante o painel Tecnologia para a inclusão social e a favor da equidade.

Além de ser professor de Matemática e Libras, Laércio é consultor educacional de uma faculdade de Tecnologia e estudante de programação da primeira turma da 42 São Paulo. Mas foi lecionando para estudantes surdos que o educador descobriu uma forma de usar as tecnologias a favor da inclusão.

A princípio, encontrou uma comunidade com uma cultura e até mesmo uma língua completamente diferentes da sua. Ainda assim, as atividades e os métodos de avaliação seguiam o modelo tradicional: papel, lápis e questões escritas em Língua Portuguesa.

Então, Laercio propôs uma mudança na forma de trabalhar com a turma. Ao invés de papel, passou a usar tablets. As questões das provas, por exemplo, eram gravadas em vídeo com legenda em Libras. E também podiam ser respondidas em vídeo ou por meio de recursos gamificados.

“Sem dúvida, essa pequena mudança foi um avanço na minha forma de avaliar e na forma dos estudantes se expressarem. Hoje vejo que meu futuro na educação está muito ligado a esse aspecto de, cada vez mais, levar educação de qualidade para uma diversidade grande de pessoas”, concluiu.

 

3- O mercado de trabalho do presente já é digital 

Segundo dados do relatório MIT Technology Review 2021, 45,7% das empresas brasileiras já estão implementando uma estratégia de transformação digital. Enquanto 30,5% delas estão desenvolvendo um planejamento nesse sentido.

“Quando falamos sobre mercado de trabalho, a tecnologia já permeia todas as áreas de atuação. Portanto, formar pessoas preparadas para exercer suas funções dentro deste contexto digital é uma questão de cidadania”, afirmou Olavo Nogueira Filho, diretor-executivo do Todos pela Educação.

Ele foi um dos palestrantes da mesa “Como preparar os jovens para o mercado de trabalho digital”, que foi mediada pelo consultor de projetos educacionais, Caio Dib. A discussão contou, também, com a participação de Camila Achutti, fundadora e CEO da Mastertech.

“Nesse sentido, o objetivo de uma educação digital não é que todos os jovens trabalhem na área de tecnologia. Mas oferecer instrumentos para que os jovens façam uma leitura contextualizada do mundo digital que os cerca. Assim, poderão usar e criar tecnologias de forma crítica e responsável”, destaca Camila Achutti.

Em complemento, Olavo Nogueira Filho relembra que para trabalhar a cultura digital nas escolas de forma efetiva é preciso integrá-la com as demais áreas do conhecimento.

“Até porque, com ou sem tecnologia, não vamos assegurar qualidade na educação enquanto tivermos mais de 66% dos jovens de 15 anos sem domínio de habilidades básicas em leitura, ciências e matemática, por exemplo”, pontuou o especialista.

4- Mercado digital e inclusão social 

Perguntada sobre quais professores e estudantes podem inserir competências digitais em sua rotina de aprendizagem, a professora Suziane Toffoli responde: todos.

“Essa ideia de que só pessoas que dominam Ciências Exatas podem aprender com o uso de tecnologias digitais é um equívoco. Todos os projetos em uma escola têm que funcionar para todos os estudantes”, acrescentou Suziane, que é coordenadora do Núcleo de Tecnologia Educacional de Gravataí (RS).

Ao longo do debate, Suziane contou sua experiência com a  formação de professores a fim de implementar  a robótica sustentável e a programação desplugada na rede pública municipal.

“Por exemplo, dentro de um grupo de robótica temos vários perfis. Há aqueles que ficarão responsáveis pela programação, outros pelo registro, outros pela comunicação. Todos os estudantes têm espaço nessa estrutura, e nenhuma função é menos importante que a outra”, acrescentou.

A mesa “Experiências no desenvolvimento de competências digitais com foco em equidade” foi mediada por Cíntia Gomes, cofundadora da Agência Mural de Jornalismo das Periferias. Além disso, contou com a participação de Silvana Bahia, coordenadora do Preta Lab.

“Acima de tudo, abrir essa discussão sobre quem faz a tecnologia nos traz a possibilidade de romper com desigualdades seculares no Brasil, como o racismo estrutural. Claro que elas não começam com as tecnologias digitais, mas se perpetuam através delas”, avaliou Silvana.

Por isso, Silvana passou a usar dados para estimular a diversidade na tecnologia. A partir deles, mapeou a porcentagem de mulheres negras nesta área e desenvolveu soluções para inseri-las no mercado digital.

“Definitivamente, a tecnologia é um caminho. Principalmente quando consideramos que temos mais de 800 mil vagas abertas na área de tecnologia e mulheres negras estão em busca de uma colocação no mercado. Por isso, temos que trabalhar cada vez mais para promover essa conexão”, concluiu.

 

5- Priorizando o bem-estar digital 

Sob o mesmo ponto de vista, Lucia Dellagnelo, diretora-presidenta do Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB), traçou um paralelo entre inclusão digital e educação. Uma vez que os jovens estão abandonando a escola e, consequentemente, perdendo oportunidades no mercado de trabalho.

“Ao contrário do que pensamos, nem sempre esses estudantes deixam a escola porque precisam complementar a renda. Eles também não veem mais relevância no que aprendem. Isso mostra a urgência de reconhecermos que o mundo mudou e, portanto, temos de nos atualizar”, apontou Lucia.

De acordo com a especialista, a escola terá como missão desenvolver futuros cidadãos mais ativos e propositivos. Portanto, os processos educativos terão de abranger uma formação cognitiva, interpessoal e intrapessoal.

“Há estudos que listam o bem-estar como o produto final de um processo educacional bem sucedido. Isso envolve o desenvolvimento de habilidades cognitivas básicas, bem como saúde mental, física e letramento digital. Sendo assim, a formação do futuro deve preparar as pessoas para lidar com o mundo hiperconectado, mas também para criar soluções de forma ética e consciente”, concluiu Lucia.

No encerramento do enlightED Brasil 2022, o professor Gilson Franco, que leciona Língua Portuguesa em escolas públicas de Fortaleza (CE), apresentou à plateia e a todos que acompanharam a transmissão do evento pela internet um cordel com uma mensagem de esperança relacionando as temáticas da educação, tecnologias digitais e inovação.

enlightED: 5 reflexões sobre a formação das juventudes para um mercado de trabalho digital
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